quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

MINHA PRIMEIRA GELADEIRA E POR QUE O BRASIL DE HOJE LEMBRA A INGLATERRA DOS ANOS 60


por Tim Vickery | publicado originalmente no portal da BBC | nov.2015

Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.

Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.

Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.

Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.

Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.

Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: “nunca foi tão bom para você” (“you’ve never had it so good”, em inglês).

É a versão britânica do “nunca antes na história desse país”. Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um “estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país” (“a state of prosperity such as we have never had in the history of this country”, em inglês).

Macmillan, “Supermac” na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.

Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou “a raiva da classe média” e temeu uma “luta de classes”. Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da “revolta da classe média e da classe média baixa”, que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada “classe trabalhadora” (“working class”, em inglês) na Inglaterra.

Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.

Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?

Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.

No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos “nobres”? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.

Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.

Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação. Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.

No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.

A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos. Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular. Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: “de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?”.

Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos. Consumo não é tudo, mas tem seu valor. Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.

*Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Para entender (ou tentar) o Sistema de Saúde nos EUA


Uma avaliação de um morador e admirador dos EUA sobre o sistema de saúde dos Estados Unidos. Não concordo com as visão neo-liberal do autor, mas o estudo feito por ele sobre o sistema americano é interessante, ainda mais sendo feito por um insider.

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14 DE FEVEREIRO DE 2014 BY LUCIANO 42 COMMENTS




Já faz muito tempo que venho estudando e lendo sobre sistema de saúde dos EUA para poder compartilhar com vocês leitores, de forma concreta, uma posição do Viver em Orlando sobre o tema. E olha, não é fácil entender a saúde neste país, por mais que você leia sobre o tema. Ainda mais agora com as mudanças na lei, o famoso Obamacare, aí ficou ainda mais complexo entender como funciona (muito embora a tentativa tenha sido de facilitar o sistema). Mas vamos tentar aqui colocar os pontos e espero que todos consigam entender.

Não tenho por objetivo com esta matéria falar sobre tudo em termos de saúde nos EUA, inclusive porque esse tema, por si só, já daria um site inteiro, tamanha é a complexidade dele.

Porém antes de começarmos a falar sobre a saúde daqui, é bom sempre salientar que esse é um dos temas que mais causam dúvidas em nossos leitores. Praticamente todos os emails que recebemos, em especial aqueles que falam sobre “mudança para os EUA”, perguntam sobre como funciona a saúde, os seguros de saúde e coisas do tipo. Sempre colocamos os pontos gerais nessas respostas. É claro que existe essa preocupação das famílias na medida em que não é possível brincar com saúde, em especial quando temos crianças envolvidas, pessoas mais idosas ou pessoas com problemas pré-existentes. Ao meu ver, esse ponto deve ser o mais importante num contexto de planejamento geral de mudança pra cá, diga-se de passagem.

Perguntas são sempre interessantes neste momento e uma das principais que eu faria é: afinal, o sistema de saúde americano é bom ou ruim? A resposta é depende do que estamos falando.

Se falarmos do ponto de vista da estrutura dos hospitais, da estrutura de tratamento e facilidade em se obter os mais diversos tratamentos para as mais diversas doenças, se falarmos do campo de pesquisa científica e investimentos nesse setor, se falarmos da formação profissional (aqui, com algumas ressalvas), me parece claro que a saúde americana é excelente e tem um nível incontestável de qualidade.







Agora, se o debate for em torno da acessibilidade e custo dessa saúde, aí meus caros leitores, lembram do SUS, pois é, alguns irão sentir saudades dele…….E porque isso ocorre? Simples resposta. Saúde nos EUA, em qualquer nível, não é nada barato, custa caríssimo e a base não é preventiva, ao contrário, é a velha saúde curativa, voltada apenas para aquele tratamento quando a doença já se manifesta. Simples assim. No Brasil o modelo é bem esse, poucas atividades de prevenção e foco na cura da doença e não na origem dela. Porém, podemos falar mal, criticar, o que for, pelo menos no Brasil, em tese, existe um sistema de saúde público e universal que garantiria o tratamento a todos, de forma gratuita. EM TESE, ok. Aqui nos EUA, nem esse “em tese” existe. E é aí que está o ponto-chave para começarmos a falar de saúde neste país.



Do ponto de vista de programas de saúde federais, existem inúmeros que recebem recursos do governo central americano e outros tantos programas estaduais (lembrando que a organização dos EUA é bem diferente neste campo do que temos no Brasil). Esses programas federais tem tamanhos e públicos bem diferentes e basicamente estamos falando dos seguintes:

– Federal Employees Health Benefits Program: me parece que o próprio nome deixa claro exatamente o que seria esse programa, em termos de assistência geral para os funcionários públicos das agências federais americanas (e são muitas);

– Indian Health Service: o programa federal de saúde para os índios nativos americanos e para as populações do Alaska.

– Veterans Health Administration: o programa federal de assistência a saúde dos veteranos das Forças Armadas dos EUA.

– Military Health System: programa de assistência a saúde dos militares americanos.

– Children’s Health Insurance program: programa ligado ao Medicaid (veremos a seguir o que ele é, de forma mais detalhada) que oferece cobertura de saúde para cerca de 8 milhões de crianças cujas famílias possuem rendimentos muito elevados para se qualificar para o Medicaid, mas não podem pagar uma cobertura privada. Este programa, assim como o Medicaid, tem gestão tanto do governo Federal, quanto dos Estados, cada um assumindo sua responsabilidade em termos de financiamento.

– Medicare: basicamente um dos maiores programas federais de seguro de saúde focado para os americanos com 65 anos ou mais, que tenham trabalhado e pago para o sistema (literalmente uma contribuição de toda uma vida), bem como os jovens com deficiência e outras pessoas com algumas doenças crônicas que também são cobertas pelo programa.

– Medicaid: programa de saúde social para as famílias e indivíduos de baixa renda. A Associação de Seguros de Saúde da América descreve Medicaid como um “programa de seguro do governo para pessoas de todas as idades cuja renda é insuficiente para pagar os cuidados de saúde”. Seria então o mais próximo daquilo que chamamos de SUS no Brasil, com o diferencial que ele não é universal, na medida em que você precisa se qualificar para fazer parte do programa e ele é baseado, exclusivamente, na renda do indivíduo.

Apenas se formos nos basear nestes programas federais, já temos uma nítida impressão do quão complicado é a estrutura de saúde nos EUA, não é mesmo? Tudo bem que os programas são focados conforme público e tudo mais, todavia, esse emaranhado de critérios de elegibilidade daqui e dali, ao meu ver, só complicam ainda mais o cenário. De uma forma geral, este artigo vai falar sobre o Medicare e o Medicaid.

Os outros citados, além desses, são bem específicos, não cabendo nesta avaliação geral por tratarem de situações de excessão. Eu diria que, no geral, esses programas que focam em certas classes, por si só, já são excludentes. No entanto, esse tipo de organização em torno de assistência médica ocorre em todos os lugares do mundo, inclusive no Brasil.


Exemplo da carteirinha do Medicare nos EUA.
Vejam, se falarmos dos dois principais programas de saúde, o Medicare e o Medicaid, temos aí duas situações bem precárias de organização estrutural. O Medicare parte do pressuposto que o indivíduo, com mais de 65 anos, tem direito a assistência de saúde tão apenas se ele, durante a sua vida ativa como trabalhador, contribuiu para o sistema e assim se qualificou para receber este benefício do governo. Já o Medicaid tem como faixa de adesão aquelas famílias ou pessoas que seriam consideradas “pobres” (notem que existem diferenças entre o que é pobre nos EUA e pobre no Brasil, ok!!) para arcar com os custos de planos privados. O problema é que, neste segundo caso, tem pessoas que não se qualificam pro Medicaid por não serem tão pobres assim, porém não tem faixa de renda suficiente para pagarem por bons planos privados. E onde eles ficam? Não ficam, simplesmente estamos falando de mais de 40 milhões de pessoas que, antes do Obamacare, estavam numa espécie de “limbo” em relação a assistência a saúde.

E com o Obamacare, elas agora estão em algum lugar? Não necessariamente. Vários aspectos desta reforma aprovada no governo Obama ainda não estão claras nos EUA e muitos debates ainda ocorrem sobre as novas regras. Iremos tratar sobre isso mais a frente neste artigo.

Bem, em termos gerais, tanto o Medicare como o Medicaid são planos de assistência a saúde públicos, onde o governo federal entra com uma parte dos recursos para garantir uma certa cobertura a população que pode usar o sistema. Evidentemente que estamos falando de uma minoria da população em si. A maioria da população americana usa os sistemas de seguros de saúde privados que existem no mercado e, acreditem, são milhares de opções aqui. Não necessariamente com qualidade, diga-se de passagem. Basicamente as famílias tem seguro contratado pelos seus empregadores, no caso das pessoas que tem trabalho full-time e/ou contratam seguros a parte para as coberturas de saúde. Não tem muito como fugir disso.

No caso de quem tem seguro saúde, o sistema é bem diferente do que percebemos em países desenvolvidos, como a Inglaterra, Canadá e França (principais bases de comparação com a realidade americana), uma vez que nesses países a saúde é um direito fundamental garantido na constituição e os serviços são universais, não havendo necessidade das pessoas terem (pagarem) pelos cuidados de saúde. No Brasil, também existe essa opção com o SUS (mesmo sabendo que ele não funciona em muitos casos). Nos EUA, ou você tem seguro, ou você vai ficar numa situação muito complicada. E quando falo da diferença do sistema, vamos exemplificar:


Estrutura do NHS, talvez o melhor sistema de saúde pública do mundo, na Inglaterra.
Pegue o caso do Brasil, com um plano de saúde x qualquer que te garante uma cobertura y qualquer. Digamos que você precisa de uma cirurgia de risco, ou tratamento para uma doença adquirida depois da contratação do plano, enfim, esses pontos gerais. Tecnicamente, a operadora deve autorizar esses procedimentos que são feitos via solicitação médica. A partir disso, você tem o procedimento feito e os custos, na maioria dos casos, se autorizados, ficam a cargo do convênio de saúde, certo? (podem ter aqui algumas exceções, é claro, mas na maioria dos planos de saúde no Brasil – os bons – funcionam desse jeito). Pois bem, aqui nos EUA temos uma espécie de seguradoras que não fazem as coberturas 100% (parece muitas vezes um sistema de co-participação, igual ao que também temos no Brasil). Ter um seguro saúde que cubra 100% de qualquer coisa nos EUA é algo apenas e tão somente para pessoas de altíssimo poder aquisitivo, uma vez que saúde é caríssimo.

Então como funcionaria: isso vai depender de qual seguradora a pessoa tem a qual o plano que ela contratou. Igual como temos no Brasil. O problema que eu vejo aqui nos EUA são as possibilidades, praticamente sempre, dessas operadoras negarem os tratamentos sob as mais diversas alegações – desde a não necessidade do tratamento em si por questões de idade, passando pela não autorização em função de doença pré-existente, algo super comum por aqui. Na prática, ter seguro neste país não significa, de forma alguma, ter acesso a tal famosa saúde de qualidade americana. Vejam como funciona, no geral:



–> Co-participação: é o que você paga quando visitar o médico. Copays, como é chamado aqui, variam de acordo com a apólice de seguro contratada, e pode mudar se você visitar um especialista ao invés de um médico regular, ou procurar tratamento fora da rede da sua operadora. Cobertura de remédios de prescrição também usa o mesmo sistema, que podem aumentar de medicamentos especiais, e diminuir para medicamentos genéricos. Aliás, a fim de incentivar o comportamento saudável, muitas seguradoras por aqui podem não cobrar dos clientes para os cuidados preventivos, naturalmente como forma de evitar maiores gastos no futuro com a saúde desse segurado.

–> Health Insurance Co-insurance: caramba, começou a complicar. A maioria dos seguros de saúde nos EUA usam esse termo – na verdade isso quer dizer o seguinte: se um fulano, digamos, quebrar a perna e já tiver chegado ao máximo de gastos anuais (sim, a maioria aqui dos planos “pagáveis” tem isso) que o seguro paga, o que ocorre é que neste caso o seguro pagaria, digamos x% desse tratamento para a perna quebrada e ele arcaria com o outro x%. Tão simples quanto. O problema é que esse x% do paciente, numa hipótese, 20%, pode ser um valor que, do ponto de vista da liquidez, seja impraticável pro camarada chegar e pagar, cash. E é aí que mora o problema.

–> Limites dos Seguros: máximo “out-of-pocket” é a maior quantidade de dinheiro que você vai ser responsável por pagar durante um ano de seguro. Aqui estamos falando, tecnicamente, do valor mensal que vai custar esse seguro pra você e sua família, certo?. OK, entendido. No entanto, a maioria das apólices de seguros de saúde nos EUA possuem um LIMITE total de gastos durante a sua vida. Se você chega no fim desse limite estabelecido em contrato, sua cobertura encerra. E aí, como você fica? Uma coisa é você quebrar uma perna, ou coisa é você tratar de um câncer, concordam?



–> Condições pré-existentes: aqui nos EUA, mesmo depois do Obamacare, a maior parte dos seguros privados fazem um processo de aplicação que verifica todo o seu histórico para dizer se você é ou não passível de contratar aquele plano. Na verdade, isso ocorre como uma forma de defesa das empresas com o objetivo de não perder dinheiro com segurados que tenham uma situação de saúde complicada e isso faz parte do contexto de mercado, é claro. Agora, se você tem condições financeiras excelentes e prova isso, não importa a sua condição pré-existente pois você pode arcar de uma forma ou de outra (aliás, quem é rico mesmo, será que precisa de seguro saúde?). O ponto x aqui é que, se pegarmos os dados da população americana e cruzarmos com a situação de obesidade crônica que existe no país, em especial nos adolescentes e jovens, em tese, eles nunca vão conseguir ter um seguro-saúde na medida em que eles possuem uma situação extremamente favorável a doenças cardio-vasculares, concordam? E o que esses milhões de americanos jovens, acima do peso, vão fazer no futuro?

Os procedimentos no geral são conhecidos, as regras de jogo sãs as mesmas que ocorrem em outros países, como é o caso do Brasil e tudo segue. Porém, o problema não é esse: a questão central do debate é – eficiência da saúde americana e falta de um sistema universal que não assegure atendimento aqueles que não tem seguro.

Eficiência da Saúde Americana

Quando falamos da eficiência da saúde americana, o quadro é temerário (muito parecido com a maluca gestão do SUS no Brasil, onde a rigor, não faltam recursos e sim, falta profissionalismo na gestão). Sim meus amigos, aqui nos EUA nem tudo que envolve gestão é feito com a ótica da eficiência, ao contrário do que todos pensam. Segundo a OMS, em matéria de eficiência, a saúde americana se localiza abaixo do quadragésimo lugar, entre os países do mundo, localização inclusive inferior a vários países considerados pobres. O problema aí é que o governo americano gasta cerca de 15% do PIB com saúde. Se estamos falando do país mais rico do planeta, 16% do PIB com saúde, ao meu ver, daria para oferecer uma bela cobertura a população, certo? Não. O custo da saúde aqui é abissal.


O governo federal dos EUA já gasta mais per capita em saúde do que qualquer outro país desenvolvido.

Como nos EUA, em tese, existem os melhores recursos de tratamento e os melhores profissionais (em especial para tratamentos bem especializados), o custo em si é altíssimo e quem paga a conta é o contribuinte americano. O sistema atual permite a existência de fraudes para todos os lados, lucros abusivos por parte das operadoras de seguros, práticas de negação de tratamentos arbitrárias (e pior, sem NENHUM controle ou fiscalização), desperdício e por aí vai. Sabe aquele controle de uma agência reguladora dos planos que deve existir para garantir o equilíbrio do sistema, pois é, nos EUA não tem. Sabe aquele processo de ir a um juiz e solicitar liminar obrigando o plano a fazer a internação e a operação, algo que ocorre com certa frequência no Brasil, pois é aqui não tem isso.

Se o camarada tem uma dívida muito grande com o hospital, ok, ele pode pagar isso em “suaves” prestações a perder de vista (como tudo acontece aqui nesse sistema de endividamento que faz do americano refém do crédito). Se por algum motivo essas famílias começam a ter problemas pra liquidar essa dívida (considerem também que ele paga pelo carro, pela casa, pelas 10 tv’s que tem em casa, pela faculdade do filho, pelo mercado, por isso e por aquilo), simplesmente o crédito começa a ter reports negativos e uma vez com crédito negativo nos EUA, as suas chances de ir a falência são muito grandes. Ah Luciano, mas está certo você ter um sistema que puna o mal pagador, não é mesmo? Claro que sim, mal pagador não deve realmente ter crédito bom, porém o ponto é que muitas famílias perdem crédito simplesmente porque não tiveram condições de pagar por uma cirurgia cardíaca que seu seguro não cobriu na totalidade, e aí, como fica? Já se colocaram nessa posição? Existem MILHÕES de americanos nela e isso aqui não é campanha negativa contra a imagem do “sonho americano” que muitos nutrem neste país. Isto é a realidade de um sistema de saúde pífio.



Falta de um Sistema Universal

Nos EUA é ensinado que o controle estatal não é algo bom. É claro que estamos falando de um país que viveu desde o final da segunda guerra até 89 no contexto da Guerra Fria e isso guarda aquelas marcas clássicas de que o estado deve interferir o mínimo possível, livre iniciativa etc. Naturalmente, países que tem essa liberdade são mais desenvolvidos do que aqueles países que estatizam tudo e centralizam o controle nas mãos de uma burocracia partidária.


Uma velha discussão que é usada apenas para deixar as pessoas ainda mais bobas e alienadas. Pior é que elas nem percebem isso e compram posições ideológicas sem nem saber ao certo o que estão defendendo.
Até aí, ok nessa forma de pensar. Porém, existem certos campos em que esse “controle” do estado deve se fazer necessário para garantir o mínimo, não é mesmo? E aí entra a questão da saúde. Ora, se aqui a educação primária e secundarista, de qualidade, é garantida pelo Estado, porque não pensarmos em uma estrutura de saúde igual? Na recente história dos EUA, a tentativa de fazer uma profunda reforma no sistema de saúde foi idealizada no início do governo Clinton, sob a tutela da primeira-dama, Hillary. Naquela época, nos anos 90, por 1 ano tentou-se fazer uma ampla reforma do sistema com vistas a garantir uma saúde universal para todos, independente de suas condições financeiras. Não deu certo. E porque não aconteceu? O lobby das empresas de saúde nos EUA é assustador e convencer a população de que é preciso garantir uma assistência integral e universal soa como aquele velho controle do estado sobre a vida das pessoas, um fantasma ensinado neste país.


Lá atrás, no início dos anos 90, houve uma tentativa de reforma na saúde americana, sem sucesso, na gestão do então presidente Bill Clinton.
O que o presidente Obama tentou e, tecnicamente, conseguiu, foi fazer uma ampla discussão sobre este tema e aprovar uma reforma de saúde que, mesmo sob desconfiança de muitos, promete avançar um pouco para garantir alguma cobertura para os milhões de americanos que não sabem o que é assistência de saúde. É claro que todo o processo vai levar ANOS pra de fato ter resultados concretos e o custo disso, segundo estimativas, fica na casa de trilhões de dólares, numa economia que já está com um déficit público inimaginável.

Eu diria que, mesmo com as suas dificuldades iniciais de operação, o Obamacare pode ser algo que venha a beneficiar essa camada da população excluída. Obama é criticado neste contexto por querer instalar no país uma espécie de socialismo (como se esse debate ainda fosse minimamente razoável)…..o que, ao meu ver, denota o quão individualista é a sociedade americana. Aquela conversa furada de fraternidade, ajudamos uns aos outros e coisas desse gênero, fazem parte apenas do imaginário de sociedade ideal que não existe nem aqui e nem em nenhum lugar.


Site oficial do governo americano com as opções de seguros de saúde de acordo com o perfil do aplicante, estado de origem, condado e por aí vai. São tantas regras, tantas situações que fica difícil alguém entender exatamente como isso funciona sem ser especialista na área.
Na minha opinião, é mais do que fundamental pra entender sobre esse tema, que os leitores vejam o documentário do polêmico Michael Moore, intitulado Sickco (2007), onde ele faz uma radiografia do sistema de saúde nos EUA e traça uma base de comparação com outros países desenvolvidos. A conclusão do documentário é realmente chocante e faz as pessoas repensarem um pouco antes de reclamar, por exemplo, de que a saúde do Brasil é uma droga. Vejam aqui o documentário, legendado e tirem as suas conclusões. Agora, temos que levar em consideração também que este produtor e escritor é, na minha visão, bem pessimista em vários sentidos. Não creio que todas as teses por ele defendidas devam ser levadas a “ferro e fogo”. Há muita contrariedade nesse contexto.



Algumas considerações importantes:

A minha ideia aqui é enfatizar a todos que se você tiver um problema de saúde neste país, tanto faz se você é cidadão americano, residente, imigrante, o que for. Você vai estar com problemas. O que fazer?

Sinceramente, em primeiro lugar, rezar para não ter problemas. Dificilmente o americano vai ao médico por “qualquer dor de barriga”. Os caras vão ao médico quando a situação já está bem complicada, o que denota a função curativa da saúde aqui e não a preventiva em si. Em segundo lugar, NUNCA vá direto a emergência de um hospital. Com ou sem seguro, a probabilidade de você ter uma fatura, enviadas pelos correios, altíssima é grande. E não estamos exagerando não hein. Já pensou você ter uma crise de apendicite aqui, não tem como não operar….e quanto isso iria custar? Complicado não é mesmo? Os americanos, com frequência, vão pro Canadá pra buscar tratamento de saúde, sabiam disso? Tem um programa desses tradicionais de Imigração e Fronteira, chamado Canada Border Security. Em vários episódios, os agentes canadenses que desconfiam dessa prática dos americanos, simplesmente VETAM a entrada deles no país. Já pensou se todo americano fosse pra lá se tratar?

Uma coisa é se consultar com um médico pra obter uma receita de antibiótico (algo que não se compra nas prateleira do Walmart). Outra coisa é você ter um problema mesmo, sério de verdade, que requer cuidados mais específicos. Geralmente, neste primeiro caso, ou você vai a alguma clínica médica dessas que funcionam 24 horas ou você pode ir nos Minute-Clinic da vida que tem em alguns Walgreens e CVS aqui nos EUA. Eu já fui numa dessas que tem perto de onde moro, paguei 80 dólares por uma consulta sem absolutamente nenhum fundamento e, pior, saí de lá sem a receita do tal antibiótico que precisava pra combater uma infecção estomacal (segundo a médica, ela não poderia receitar aquele remédio sem antes fazer exames pra saber a causa do problema, etc etc). Resultado: voltei pra casa, fiquei 3 dias de cama e, por sorte, contei com a ajuda de algumas pessoas que me deram antibiótico que tinham quando vieram do Brasil. Olha o aperto :(


Visão geral do Minute Clinic da CVS. Você chega, agenda o atendimento ali naquele computador, o profissional te chama, mede pressão, pergunta isso e aquilo e um abraço. Casos mais complexos, nem adianta perder tempo e dinheiro.
E como se faz pra viver aqui sem seguro de saúde? Simples. Não faz. Ou você reza pra não ter nada, ou você se auto-medica (e os americanos são recordistas nesse campo) ou você simplesmente pega um avião e volta pra casa, quietinho e sem reclamar do Brasil e do SUS. Aliás, tem muita gente que faz isso aqui viu, inclusive quem já tem residência permanente, é cidadão ou o que for. Reclama-se do Brasil, com razão, mas na hora do aperto….. Podem reclamar o que for do SUS e tudo mais, todavia, quando falamos de tratamentos de saúde mais sérios e assistência integral, recorremos a ele. Vejam os casos de câncer, os casos de tratamento da AIDS e por aí vai. OK, tem falhas para todos os lados, mas ao menos depois dos procedimentos, você não sai do hospital com uma CONTA a ser paga e isso faz diferença. Meu pai, infelizmente já falecido, teve tratamento de câncer coberto integralmente pelo SUS (gratuito) e isso, apesar de eu ser um crítico ferrenho do Brasil, é algo que não ocorre nos EUA meus amigos. Conheço VÁRIOS casos de pessoas que vivem aqui legalmente e na hora do aperto, não pensam duas vezes num voo rumo ao Brasil.

Ah Luciano, mas aí na Florida, é obrigatório que os hospitais públicos te atendam, independente da tua situação imigratória e/ou se você tem seguro de saúde, não é mesmo? É sim. Em tese, se você chamar uma ambulância pelo 911 (vai ser cobrada as milhas percorridas entre a tua casa e o hospital, só pra deixar claro ok?) e for pra um hospital, provavelmente eles vão te atender, com ou sem seguro, MAS/CONTUDO, você vai ter de pagar alguma coisa (e não é pouca) caso isso ocorra. Não tem como escapar meus caros e isso é muito sério.

Por que estou falando tudo isso? Para dizer a vocês, leitores do Viver em Orlando, que os EUA tem esse “buraco” que não fecha e que não vai fechar tão cedo. Se você tem um planejamento de vir pra cá, imigrar, o que seja, ótimo, mantenha o foco e siga essa ideia, porém, não se esqueça que saúde aqui não é pra quem quer, e sim pra quem pode. Se você tiver plano de saúde no Brasil, MANTENHA ele ativo, não se desfaça dele, jamais.

As pessoas que vêm pra cá como turistas, estudantes, não tem direito a contratar, no geral, planos de saúde convencionais. O que elas tem direito é ter (e é super recomendado que tenham), os seguros de viagem tradicionais que fazem uma cobertura x e y baseada na apólice contratada. Não se recomenda viver aqui sem ter nada disso, a não ser que você não se preocupe com isso (o que as vezes é uma terapia necessária, diga-se de passagem). Se você vier e aplicar pra um visto de trabalho, um L, ou qualquer situação do gênero, daí sim você teria direito a ter um plano de saúde convencional, nos moldes desses que são vendidos aí no mercado.

Por fim, se vocês quiserem analisar os custos dos procedimentos de saúde ao redor dos EUA, entrem neste site (aqui), coloquem o nome do hospital ou cidade/estado e vejam os preços “promocionais” de certos procedimentos. Alguns exemplos, de um dos maiores hospitais aqui da Florida. Sabe o custo médio de uma cesárea na Florida? U$20,000 (não perca a conta dos zeros). Veja aqui.











É isso aí meus amigos. O jeito é torcer pra não ter nada e, se tivermos, nem pensar duas vezes sobre o que fazer.

Um grande abraço a todos :)

Luciano




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Comentários

Valéria Pereira
14 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 8:19 PM

Olá Luciano,

Agradeço as informações.
Gostaria de saber qual é a média de preço de um plano melhor, com mais cobertura para uma família de dois adultos e duas crianças.

Super Obrigada e Parabéns pelo trabalho!

Valeria

Responder
luciano
15 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 10:10 AM

Prezada Valéria, tudo bem?

Você leu o artigo, certo? Percebeu que não existe neste país planos que cubram 100%, correto?

Em termos de valores, como não sou dessa área em si, não posso te repassar muitas informações. Talvez o melhor mesmo seja contar com o apoio de algum profissional do setor e ter a certeza do que o plano cobre e não cobre. Cuidado ao extremo nesse ponto para evitar dor de cabeça lá na frente.

Abraço.

Luciano

Responder
Edison
16 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 12:18 AM

Olá Luciano, mais uma vez parabéns por esta excelente postagem , pois quero relatar dois casos rapidamente sobre isso que aconteceram comigo…quando eu morava na cidade de Pensacola, FL, minha ex esposa ficou gravida e como ela tinha visto de trabalho conseguiu aplicar o medicaid pra acompanhar o pré natal. Lembro muito bem quando tive que uma aplicação de pobreza para conseguir que o estado pagasse o parto normal, que custava exatamente 8 mil dólares. Como eu ganhava apenas 1500 dólares como gerente de uma famosa fast food, consegui ser aprovado pois para o estado da FL se vc ganhasse abaixo de 5 mil dólares você era considerado pobre e o que recebia acho que pra sociedade eu era um miserável. Enfim meu filho nasceu com todos os direitos de uma cidadão americano além do bolsa família americano….agora em 2014, depois de 13 anos afastado dos EUA por ter ficado ilegal em um certo período recebi a penalidade de 10 anos, mas consegui receber meu greencard de família e retornei para ver como tavam as coisas. Em Janeiro estava no central park com meu filho brincando na neve quando escorreguei e cai de costas, no começo na doeu pois caí na neve e tava quente o meu corpo, entretanto a noite começou a me incomodar a minhas costas e irradiando para virilha e o abdômen, minha irmã que hoje é cidadã americana viu que nem conseguia me levantar muito menos andar, e resolveu me levar pro hospital do estado do Alabama onde ela reside. Fiz um raio x, logo após uma ultra-som e de tabela uma topografia computadorizada pra ver realmente o que era essa dor. Descobriram na mesma hora que era apenas um nervo que estava inflamado que com uma medicação poderia melhorar. Ao sair os do hospital o office de lá me chamou para saber se eu tinha um plano de saúde, e eu aleguei que estava apenas a passeio na cidade apesar de está com o greencard na mão. Pediu o endereço de minha irmã e já avisou que essa brincadeirinha custou apenas alguns milhares de dólares. Está semana minha irmã recebeu a conta que foi apenas 9 mil dólares e perguntando se eu posso pagar a vista…entretanto terei a opção de financiar isso por perder de vista…resultado, eu que estou retornando no fim do ano em definitivo para os EUA, recomeço minha vida com uma dívida de 9 mil dólares e sabendo que se não começar a pagar minha abertura de credito já começa sendo negativa.
Abraços.

Responder
luciano
16 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 1:09 PM

É isso aí Edison, 3 exames, 9 mil dólares pra constatar que o teu problema era uma inflamação no nervo. Sabe porque eles pedem tantos exames? São duas razões: a primeira e super evidente é que existem os custos desses exames que são repassados a alguém, pessoa física, empresa, seguro de saúde, quem for. Alguém vai pagar essa conta, mesmo que em prestações (no caso das pessoas) a perder de vista, caso elas queiram continuar com seu famoso crédito em dia pra conseguir aquele carrão bonito e comprar aquela nova tv na Black Friday. A segunda razão é o medo (e uma certa paranóia) de que as pessoas entrem com processo caso haja um erro médico. Logo, eles querem se certificar de TUDO antes de tirar um conclusão. Aparentemente isso é mais do que importante, não é mesmo? Porém, se não fosse o custo envolvido…..

Resumindo meu amigo Edison, bem como falei no texto: aqui neste país, tanto faz se você é americano, residente, imigrante, ilegal, o que for, literalmente você está enrolado com o sistema.

Abraços.

Luciano

Responder
Fladmir
16 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 11:20 AM

Oi Luciano,

Parabéns !!! Mais um belo texto sobre esse assunto controverso de saúde nos EUA, que só complicou ainda mais com a chegada do Obamacare.

Existe também o que chama-se deductible que é uma quantia específica de dólares que sua companhia de seguros pode exigir que você pague do próprio bolso a cada ano antes de seu plano de seguro começa a fazer seus pagamentos. Quanto menor o deductible maior a mensalidade, e vice-versa.

Para auxiliar seus leitores existe um site (www.ehealth.com) que você pode consultar valores de planos de saúde com base em seu Zip Code, quantidade de membros familiares, idade de cada um, se tem ou não direito á subsídio do governo, etc.

Abraços,

Fladmir

Responder
luciano
16 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 1:04 PM

É verdade Fladmir, o Obamacare, nessa questão de obrigar as pessoas a terem um seguro saúde, me parece que não acerta a dose na tentativa de promover uma reforma que garanta saúde de fato a quem não se qualifica para programas do governo e/ou não tem como pagar um seguro privado. Em resumo, a situação de saúde neste país, pra quem pensa em vir pra cá, imigrar, etc, é complicadíssima. Eu honestamente tenho certeza que a maioria das pessoas que tem projetos para EUA não fazem idéia de como isso funcione aqui e nem se dão conta que, por trás da mágica e do país onde “tudo” funciona, temos um dos pontos mais fundamentais que não funciona e nem vai funcionar. Bem triste essa realidade.

Um grande abraço pra você e família.

Luciano

Responder
Claudio
20 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 3:11 PM

Prezado Luciano,
Parabéns pelo seu artigo, muito bem redigido apesar do enorme viés que acredito ter sido passado pelo documentário Sicko, que mostra de forma extremamente sensacionalista, enviesada e claramente com cunho político ideológico o sistema de saúde norte americano. Obviamente, existem inúmeros problemas no sistema e os principais você citou: 1 – medicina com base curativa e não preventiva, 2- percentual de “excluídos” do sistema, 3- altíssimo custo.

Talvez alguns comentários devessem ser tecidos:
1- Na maioria (senão todos, salve engano|) dos Estados, dívida de saúde não causa prisão nem tampouco “negativa” crédito. Obviamente você será solicitado a pagar sua dívida e poderá parcelar a perder de vista ou solicitar ajuda ao governo – existem vários programas governamentais de auxílio, com desconto do tax refund, restituição do imposto de renda, e até, dependendo do caso, o governo assumindo sua dívida em troca do não pagamento da “bolsa família” deles.

2- Além dos hospitais particulares existem diversas clínicas e hospitais “Filantrópicos” que prestam atendimento sem custo aos usuários, ou com custo reduzido. No próprio website do healthcare.gov existem links com os endereços de tais centros.

3- O próprio governo incentiva os cidadãos de baixa renda a adquirirem seus seguros de saúde por intermédio do governo, em troca, por exemplo da “restituição do imposto de renda”, cabendo ao cidadão a responsabilidade de aderir ou não.

Na minha concepção tal sistema de saúde segue a ótica das liberdades individuais e do capitalismo, típico norte americano (com todas suas críticas que podem advir). O Governo DEFINITIVAMENTE NÃO TUTELA a saúde. Talvez seja o seguinte entendimento: O DEVER DE SE CUIDAR É SEU, NÃO DO ESTADO. SE VOCÊ É OBESO, DEVERÁ MELHORAR A DIETA E PRATICAR EXERCÍCIOS FÍSICOS, SE NÃO O FIZER ARCARÁ COM AS CONSEQUÊNCIAS DISTO NO SEU CORPO E NO SEU BOLSO.
Está errado? Entendo que de todo não.
A socialização da saúde no Brasil tem vieses talvez piores que o norte americano (vale a discussão), uma vez que TODOS NASCEM COM DIREITO AO SUS no Brasil e o acesso é universal, não existem mecanismos reguladores para isto (o acesso). Todos tem o “direito”, os multimilionários e os paupérrimos, isto é Justiça Social? Além disto, como não há regulação e nada que faça a pessoa pensar duas vezes antes de procurar o atendimento / exame etc, as demandas ficam cada vez maiores. Imaginemos a situação de uma jovem com um quadro de dor de cabeça ou cólica menstrual, por exemplo. Enquanto aí há a tendência de se buscar um analgésico e tocar a vida, aqui há a procura por um atendimento médico. Quantas e quantas vezes já não ouvi a máxima “Eu estou com dor de cabeça e estava passando pelo posto, resolvi consultar.”
No meu entendimento, este tipo de sistema definitivamente não é viável pois não há dinheiro que consiga, sem qualquer tipo de regulação, financiar tais custos para o Governo. E a prova disso é o crônico estado agonizante do SUS no Brasil.

Para encerrar, minha última anotação sobre o sistema norte-americano. Entendo que um dos grandes culpados para o custo da saúde nos EUA ser tão alto é o Poder Judiciário. Enquanto em outros países do mundo a medicina é tida como atividade meio (o médico deverá garantir esforços para tratar a doença), nos EUA a justiça entende que é atividade fim (o médico deverá quase garantir a cura, como se ninguém mais pudesse morrer ou adoecer que a culpa é do médico – um completo descalabro). Com isso, o custo de indenizações judiciais por supostos erros médicos atingem a estratosfera e os hospitais são sempre acionados juntamente com os profissionais.

Efetivamente, dinheiro não dá em árvore, para alguém ou alguma família ganhar uma indenização de milhares de dólares pois a cicatriz da cirurgia ficou feia, este custo será repassado para o restante da sociedade, com elevação dos custos.

Vale lembrar que NINGUEM, NENHUM PROFISSIONAL pisa dentro de um hospital americano, seja para estudar, pesquisar ou atender sem pagar um pomposo SEGURO DE RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL (Mal practice insurance), em qualquer área, seja médico, enfermeiro, estudante, o que for. Médicos chegam a pagar entre 30 e 40% dependendo da especialidade, de seu salario ANUAL para cobertura de seguros de responsabilidade. Com isso, alguem tem que pagar esta conta, e esse custo, obviamente, é repassado para todos que são atendidos. Não deixa de ser uma lógica de mercado.

Em resumo, na minha opinião, é o Judiciário americano o responsável pelos altos custos da saúde aí.

Sei que o texto ficou meio longo, se quiser, não precisa publicar, basta somente que troquemos algumas idéias e reflitamos.

Um abraço.

Responder
luciano
20 DE FEVEREIRO DE 2014 AT 3:24 PM

Prezado Claudio, tudo bem?

Excelente contribuição. O texto ficou longo, mas está claríssimo e muito bem detalhado.

Sim, um pouco da visão compartilhada foi baseada em termos do documentário de Michael Moore. Tenho convicção do cunho político dele em muitos outros aspectos que se referem a vida e a sociedade americana. É evidente que este cunho, muitas vezes, “contamina” o trabalho de relato dos documentários. Todavia, em linhas gerais, entendo que este documentário sirva como uma base para, ao menos, refletirmos em termos de saúde pública, seja aqui nos EUA, ou em qualquer outro lugar.

Em relação ao SUS brasileiro, concordo em partes com tuas colocações, em especial no que tange a recursos para bancar o sistema. Talvez o cenário não seja de falta dele e sim de uma gestão totalmente sem profissionalismo e corrupta que acaba, sem dúvidas, por prejudicar aqueles que mais precisam do sistema, leia-se, os mais pobres. É claro que em certas demandas, como a questão de tratamentos de câncer e HIV, o SUS, mesmo com suas deficiências, oferece um tratamento interessante. Falo isso por experiência própria. Meu pai, falecido ano passado, fez todo um tratamento contra o câncer do pâncreas na rede pública, com um excelente atendimento e gratuito. Outros casos eu também conheço, em especial da época em que trabalhei no Ministério da Saúde no Brasil, a muitos anos atrás.

Quando ao poder judiciário nos EUA, não tenho muitos elementos para poder inferir ou emitir algumas opiniões de cunho conclusivo. Entendo que aqui a situação é bem diferente em muitos termos.

No mais, é sempre bom poder elevar o nível dos debates e das discussões em torno deste e de outras temas que são importantes num processo de planejamento de vida aqui nos EUA ou onde for. Agradeço sua contribuição e peço que sempre possamos trocar essas informações que, a rigor, servem para que os amigos leitores do site possam fazer suas análises da melhor forma possível, sem cair na ilusão e nos achismos.

Um grande abraço.

Luciano

Responder
Andre
9 DE JULHO DE 2014 AT 5:11 PM

Bom, sou dentista do SUS em Guarlhos, SP.
Por pior que seja aqui, em algum momento, vc será atendido. (FILA)
Nos EUA parece que não há nenhuma piedade quanto ao doente. Não há atendimento gratuito.

O fato de procurar consultas em outros países demonstra o desespero da população.

Aquele filme “Clube de compras Dallas” mostra os americanos indo atrás de remédios no México, que é um país que vende tudo sem receita.

Responder
luciano
16 DE JULHO DE 2014 AT 9:00 PM

Andre, tudo bem?
Concordo piamente com sua avaliação. Esse mundo encantado de achar que os EUA são incríveis enquanto nação, onde todos tem as mesmas oportunidades e acesso aos serviços básicos, etc, é pura bravata. Se precisar de algum atendimento médico mais complexo nos EUA, é um Deus noa acuda……me arrisco a dizer que a maioria dos brasileiros que residem nos EUA (seja onde for), sejam permanentes ou não, na hora H, do aperto, “fogem” pro velho Brasil mesmo…..muitos dos que conheço inclusive mantêm ativos seus planos de saúde….
Obrigado por opinar neste post.
Abraço.
Luciano

Responder
Marcelo
21 DE AGOSTO DE 2014 AT 7:04 PM

Olá Luciano, parabéns pela iniciativa de escrever sobre um tema fundamental.

Infelizmente fui diagnosticado com ALS (ELA em português) , daqui alguns anos estrei na cadeira de rodas, e não consigo me ver morando na minha cidade como cadeirante, pois tenho vergonha e o pior não temos acessibilidade para utilizar ônibus e é um sacrifício, o motorista não gosta de parar o ônibus e ajudar e os passageiros começam a reclamar da demora.

Resumindo, estava com planos de morar em Miami, comprar um apartamento e ter o direito de ir e vir sem ter vergonha de nada, mas não sabia que é tão complicado assim, não sei agora o que fazer.

Qual sugestão você me daria!?

Att,
Marcelo

Responder
luciano
25 DE AGOSTO DE 2014 AT 5:20 PM

Marcelo, infelizmente não existe nenhum programa de imigração que vá facilitar o teu caso.
Ademais, nos EUA existem cidades e cidades e não vejo, sinceramente, Miami sendo essa cidade com excelente acessibilidade.
Boa sorte meu caro.
Luciano

Responder
MiGUEL
4 DE SETEMBRO DE 2014 AT 12:40 AM

Luciano boa tarde !

Excelente o site ! Leio cuidadosamente cada post.

Moro legalmente em Orlando há 6 meses

Sugere algum seguro saúde para quem tem família (esposa e filhos). Tenho SSN….

Alguma empresa em específico ?

Estou perdido em relação a isto.

Obrigado.

Responder
luciano
4 DE SETEMBRO DE 2014 AT 5:09 AM

Miguel, infelizmente não conheço ninguém em quem confie piamente pra te indicar neste ponto.
As empresas ou os corretores de seguros que tem em Orlando (nossos patrícios, gostaria de deixar claro!!!) já me deixaram em cada encrenca que não indico mais ninguém.
Desculpa não poder ajudar neste campo.
Luciano

Responder
Wellington Sabino
25 DE SETEMBRO DE 2014 AT 5:21 AM

Parabéns Luciano está bem claro pelo seu post como funciona o sistema americano de saúde que é excludente, abusivo e interesseiro em lucrar muito a base das desgraças das pessoas, nós brasileiros reclamamos muito e não damos valor para o que temos e muitas vezes não temos coragem de tentar mudar para melhorar o que está ruim e valorizar o que já está bom, O Sus pode ter todos os seus problemas mas atende qualquer um, seja qual for o problema, fiquei abismado com os custos e a falta de fiscalização, regularização e corrupção do setor de saúde tendo em mente que as seguradoras podem fazer o que desejam e não são punidas, três exames medicação e diagnostico por 9000,00 dólares??? o que é isso??? triste e ainda reclamamos quando vamos ao pronto socorro do plano de saúde da empresa fazemos exames, recebemos medicamento diagnostico e nos descontam 55,00 reais ou fazemos tudo isso na rede publica e aguardamos 4 horas.

Responder
luciano
25 DE SETEMBRO DE 2014 AT 4:44 PM

Pois é Wellington, a função deste site (e desta matéria sobre a saúde) é colocar de forma clara para as pessoas que nem tudo são mil maravilhas nos EUA. Vejo que muita gente quer sair do Brasil e entendo perfeitamente as razões. Porém elas esquecem que a vida no exterior não é a vida das compras, dos parques da Disney e dos carrões importados…..muita gente esquece de detalhes básicos na hora de planejar e isso é complicado. A quantidade de pessoas que conheço em Orlando que retornaram pro Brasil pra tratar de saúde é grande viu. Ora, se a situação nos EUA fosse boa em termos de saúde, porque retornar ao Brasil então?
Um grande abraço.
Luciano

Responder
Alexandre
7 DE JANEIRO DE 2015 AT 6:11 PM

Boa tarde.
Primeiramente parabéns pelo site. Gosto muito de pesquisar sobre os locais
onde pretendo visitar e seu site é muito bom quando se trata de EUA.
Confesso que eu tinha um sonho de passar uma temporada em Orlando com a família, fazendo cursos de inglês, visitando os parques e fazendo compras.
Futuramente até passar um perído maior, quem sabe uns 2 anos ou mais.
Mas a questão da saúde sempre foi um ponto de muitas dúvidas e receios.
Há poucos meses um amigo foi visitar os parques da Disney e passou mal ao comer as tais coxas de peru que é comum na região. Levaram ele para o hospital, mas tudo não passou de um susto. Mas susto mesmo foi a conta que chegou aqui no Brasil de U$ 5,000,00. Diante desses fatos e de matérias esclarecedoras como a sua, estou desistindo desses sonhos, antes que virem pesadelos. Aqui no Brasil, bem ou mal, temos saúde gratuita. Sou militar e tenho inclusive direito a hospital próprio (Hospital Naval Marcílio Dias). Quando não quero esperar pelo atendimento, que pode ser de mais de um mês, no caso de uma tomografia, pago do próprio bolso, algo em torno de R$ 400,00. Com o dólar a R$ 2,70 sairia a U$ 148,00. Nada mal. Como tenho duas filhas pequena e esposa, fica muito difícil largar o certo pelo duvidoso. Mesmo para uma temporada de apenas 2 ou 3 anos. Obrigado pela matéria muito bem feita. Imagino o trabalho que deu para fazer essa análise e pequisa. Mais uma vez parabéns.

Responder
luciano
8 DE JANEIRO DE 2015 AT 5:22 PM

Pois é Alexandre. Muitas pessoas pensam que a vida nos EUA é simples porque baseiam suas análises e decisões por experiências de turismo (que na maioria dos casos são interessantes) e não pela avaliação concreta dos fatos – trabalho legal, visto de permanência, custos em dólar, saúde e assim por diante. Esse tema de saúde é sempre importante e sim, não há nada que leve a gratuidade 100%. Alguém paga a conta, seja nos EUA ou no Brasil, não é mesmo? Fica sempre a dica para que as pessoas avaliem, planejem e não tomem decisões apenas baseadas no “achismo”. Um grande abraço.
Luciano

Responder
flavio de castro
25 DE FEVEREIRO DE 2015 AT 10:32 PM

Prezado Luciano, Boa Tarde!!!

meu tio esteve em Orlando a 30 dia atrás.
Durante a sua estadia o meu primo de 4 anos teve um pequeno corte na testa, causado por uma pequena tesoura que ele manuseou sem que os meus tios percebessem.

Ele foi encaminhado a emergência do Hospital Universitário Dr.Philips

.Chegando lá, o meu tio explicou o motivo do corte e passou algumas informações sobre a saúde do meu primo e ao final solicitou uma estimativa aproximada do custo do procedimento necessário para resolver o problema.
Ele foi informado que eles só passariam o valor após a conclusão final de todo o procedimento.
Meu primo tomou 02 pequenos pontos e em menos de trinta minutos ele foi liberado.

Ao passar no caixa para saber o valor dos serviços, ele foi informado que o procedimento ficou em us$580.00. Um absurdo ,porem fazer o quê.
Só que o meu tio não tinha aquele valor no momento e eles não aceitavam cartão de crédito/debito. E o seguro viagem dele não tinha convenio com aquele hospital e não autorizou o pagamento.

Então eles deram uma papelada para o meu tio assinar anotaram o nome dele mas não pediram nenhuma identificação ( passaporte, cpf, endereço, etc) apenas o seu e-mail e disseram que mandariam o nº da conta do hospital para que ele fizesse o deposito e liberaram tanto o meu tio como o meu primo.
O problema é que o acidente com o meu primo ocorreu as 18 horas (horário local ) e o voo dele estava marcado paras as 20h. Conclusão, ele saiu do hospital e foi direto para o aeroporto.

Na data de hoje, ele me ligou pois recebeu um e-mail do advogado do hospital fazendo uma cobrança de US$ 1.900.oo (Hum mil e novecentos dólares ) pelo procedimento. Como ele já tem uma certa idade e pediu a minha ajuda. E como eu não entendo nada das leis americanas estou recorrendo a vc.

A pergunta é.
Caso o meu tio decida pagar somente o valor que lhe informaram verbalmente ou não pagar nada, pois quem poderá garantir que eles não iram aciona-lo judicialmente nos E.U para receber o restante, ele poderá sofrer algum processo que ele seja impedido de voltar aos E.U. daqui a 02 anos ( o visto dele tem validade de 10 anos.???

Se vc não puder me responder, favor me indique alguém que tenha conhecimento das leis americanas.

Atenciosamente,

Flavio de Castro.

Responder
luciano
1 DE MARÇO DE 2015 AT 4:41 PM

Flávio, passei esses dias buscando alguma orientação mais específica pra te repassar nesse caso e infelizmente não obtive êxito. As pessoas que conversei disseram que, a rigor, o hospital abusou na cobrança e que você deve entrar em contato para pagar APENAS o devido na hora do procedimento, explicando a questão da viagem. Em suma, esse sistema nos EUA é bem complicado. E outra, você também pode acionar o seguro para verificar quais os procedimentos legais que devem ser adotados. Minha visão: eu não pagaria esse montante, na medida em que é um profundo abuso e totalmente sem cabimento.
Abraço.
Luciano

Responder
rosana
5 DE MARÇO DE 2015 AT 8:22 PM

Bor tarde, eu estou pesquisando sob este assunto e o que vi que seguro saude pode ser uma alternativa, onde vc paga um anual , e tem direito a usar, dependendo do seu plano, ate $1 milhao de dolares por pessoa. pagando uma franquia por volta de $1000,00 por pessoa( anual), este seguro nao da direito a consultas e prevençao, mais em casos mais graves ele dá uma grande cobertura , mediante o pagamento da franquia.. voce poderia explanar melhor esse contexto? obrigada

Responder
luciano
8 DE MARÇO DE 2015 AT 3:24 AM

Rosana, não sou especialista nesse campo, confesso.
Não entendo como funciona o sistema de franquia, na sua totalidade, pois ele depende do plano contratado, tempo de duração, empresa e, é claro, uma análise rigorosa da apólice.
Melhor mesmo é consultar direto com as empresas que vendem esse produto.
Abraço.
Luciano

Responder
Marcelo William
21 DE MARÇO DE 2015 AT 3:36 PM

Luciano bom dia! Muita gente aqui no Brasil mobilizando-se para que um bebe chamado Davi Miguel consiga ir para os EUA fazer um transplante de intestino delgado, que custa cerca de 1 milhão de dólares, que é feita por um médico brasileiro em Miami, nossos governos não entraram na causa porque a expectativa de vida do garto era de 4 meses, mas ele já fez 1 ano recentemente e já conseguimos 1 milhão de reais… você sabe se existe a possibilidade dele ter um seguro saúde para cobrir essa cirurgia? a Health Care Financing Administration (HCFA) deu sinal verde para que o Medicare e o Medicaid (sistemas de seguro-saúde) paguem transplantes de intestino delgado… muito obrigado por suas considerações. abs.
Marcelo William

Responder
luciano
22 DE MARÇO DE 2015 AT 7:59 PM

Marcelo, infelizmente não domino esse assunto em específico para emitir uma opinião.
Torço para que tudo dê certo.
Grande abraço.
Luciano

Responder

Esquecer o passado

Marino Boeira
janeiro 20, 2016 Por Marino Boeira


Quem viu o filme Labirintos de Intrigas pode ter ficado surpreendido como, depois de alguns poucos anos do final da segunda guerra, a sociedade alemã, no caso a que vivia em Frankfurt, tenha esquecido tão facilmente as atrocidades cometidas pelos nazistas e aceitasse que muitos dos seus agentes mais cruéis – aqueles pertencentes as SS – pudessem retomar suas antigas funções na vida social e econômica da cidade.

O ponto de inflexão entre as lembranças da guerra e o esforço para esquecê-las talvez possa ser datado pelo período compreendido entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945, quando se reuniram na pequena cidade alemã de Potsdam, nas cercanias de Berlim, os líderes das potências vencedoras para decidir o destino da Europa após o final da guerra em maio de 45.

A conferência de Potsdam, a terceira depois de Teerã e Yalta (estas ocorridas antes do final da guerra) serviu mais para confirmar aquilo que já estava praticamente decidido nos campos de Batalha.

Se nas duas primeiras, as grandes estrelas foram Stalin, Churchill e Roosevelt, em Potsdam, Truman substituía, sem o mesmo brilho, o falecido Roosevelt; Churchill começaria a conferência, mas não a terminaria, porque derrotado nas eleições britânicas, seria substituído por Clement Atlee. Só Stalin, ainda que abalado por problemas cardíacos, seria o mesmo.

Nessa ocasião, apesar de serem aprovadas as reivindicações territoriais soviéticas (ocupação de uma parte da Polônia e anexação dos estados bálticos) a indenização pela Alemanha da enorme destruição que causara na União Soviética, não foi aprovada.

O acordo permitiu ainda o deslocamento dos alemães que ocuparam a Silésia e os Sudetos durante a guerra, numa limpeza étnica que transferiu cerca de 11 milhões de alemães entre 45 e 47, fato que ainda hoje pouco conhecido pela maioria das pessoas que estudam a segunda guerra e suas consequências.

Karlov Vary, hoje uma importante cidade turística da República Tcheca, era até 1945 praticamente uma cidade alemã. Hoje, os vestígios dessa presença são mínimos.

O que ficou claro para ingleses e americanos em Potsdam era que tinham cometido um erro em Teerã e Yalta, quando não atenderam os apelos de Stalin para abrir uma segunda frente na Europa.

O cálculo de Churchill e Roosevelt, naquelas ocasiões, era deixar sangrar alemães e russos para impor depois suas políticas sobre uma Europa totalmente debilitada. Com o que os dois não contavam era a reviravolta na guerra, com os Exércitos Vermelhos derrotando amplamente os nazistas entre o final de 43 e o ano de 44.

Quando a segunda frente foi aberta com a invasão da Normandia era tarde e os soviéticos já estavam às portas de Berlim e ocupado a maioria dos países situados a leste da Alemanha.

Por isso, os termos da Conferência de Potsdam foram amplamente favoráveis aos soviéticos na medida em que eles se apresentavam como os grandes vencedores da guerra. A partir dali a estratégia americana e inglesa foi de se preparar para um possível conflito com os russos. Era a chamada “guerra fria” que começava.

Para isso, era preciso contar mais uma vez com a Alemanha. Rompendo com uma das cláusulas do acordo que previa a divisão territorial do País em quatro áreas de ocupação até a sua unificação, quando as instituições nazistas estariam totalmente erradicadas, americanos e ingleses promoveram a criação de forma unilateral da República Federal Alemã.

Para erguer o novo país foram investidos, nos valores de hoje, cerca de 130 bilhões de dólares através do chamado Plano Marshall e para administrá-lo foram buscados os quadros formados durante o III Reich.

É esse período que o filme retrata, quando antigos assassinos de Auschwitz se transformavam em diretores de escola e velhos colaboradores do nazismo compunham os quadros do judiciário e da polícia.

Dentro dessa situação, lembrar o passado seria uma forma de perturbar o funcionamento da nova sociedade e o esquecimento passou a ser uma virtude.

É preciso olhar para frente e esquecer o passado, diziam os membros do Governo de Konrad Adenauer, lema que hoje no Brasil, muitos dos que se locupletaram durante a ditadura militar gostam de repetir.

Os comunistas, hoje


Marino Boeira
janeiro 21, 2016 Por Marino Boeira em Política

O sentimento de repúdio ao PT, introjetado na classe média brasileira por uma forte ação dos veículos de comunicação, não tem consistência para resistir a uma simples análise sociológica. Ele é inteiramente irracional nos seus objetivos, mas suas origens podem ser desvendadas facilmente na medida em que se reconheça o processo desenvolvido pela mídia para ir transformando o sentimento que, inicialmente era de solidariedade a um partido cujas bandeiras eram de representação das reivindicações populares em seu oposto, de repúdio ao seu projeto e principalmente aos seus líderes.

A palavra chave para esta mudança se chama corrupção, atribuída pela mídia ao PT como se fosse uma prerrogativa exclusiva sua e de seus membros. O interessante nessa ação sistemática da mídia em atribuir essa característica ao PT é de que há claramente uma inversão de responsabilidades nesse processo.

Os agentes da corrupção são sempre os mesmos em toda a história brasileira moderna: os grandes empresários que usam seu poder material para construir o modelo político que lhes interessa e manter seus agentes sob controle.

Mesmo que eventualmente alguns desses empresários corruptores possam ser presos, como acontece agora, eles são apresentados pela mídia quase que como vítimas da ganância dos políticos.

Nesse aspecto, os meios de comunicação cumprem seu papel institucional – alguns com mais virulência, outros de forma mais amena – de defensores do modelo de democracia formal capitalista em que vivemos.

É nesse ponto em que se situa a necessidade de destruir um partido – no caso o PT e seus líderes – pela ameaça que ele representou, ainda que de forma muito tímida, a continuidade de um sistema que é essencialmente nocivo ao povo.

Outras ameaças ao sistema foram atacadas no passado da mesma maneira, usando a bandeira da honestidade contra a corrupção. Na história recente do Brasil, foram estes argumentos os usados para pressionar o Governo Vargas, levando o seu líder ao suicídio e no processo que terminou com o golpe de 64.

Nenhum caso, porém, foi tão marcante na nossa história recente como a transformação dos comunistas nos grandes inimigos da pátria brasileira. Como hoje ocorre com os petistas, a mídia os transformou nos grandes agentes do mal.

Dois eram os argumentos principais, já que nesse caso a acusação de corrupção não se sustentaria: o comunismo era uma doutrina exótica, distante dos sentimentos cristãos e ocidentais do povo e o comunismo era contra a religião e a existência da família.

O primeiro era um absurdo conceitual, já que os comunistas se espiravam no marxismo, um sistema baseado num tripé: as ideias dos economistas inglesas, dos socialistas franceses e dos filósofos alemães, nada mais ocidental, portanto.

Segundo, os comunistas, por princípio, não incluíam a ideia de Deus na construção do mundo e da sociedade e em consequência disso, não admitiam uma religião de Estado, como temos hoje aqui, ainda que de forma disfarçada, mas por princípio democrático defendiam que cada um pudesse escolher a religião que quisesse.



Quanto à família, talvez fossem até conservadores demais.

O processo de desconstrução dos ideais pelos meios de comunicação a serviço dos interesses da grande burguesia foi tão eficiente que o Partido Comunista praticamente desapareceu como agente de influência na vida política brasileira.

Ainda que substituindo a bandeira revolucionária dos comunistas da foice e do martelo pela bandeira reformista da estrela, o PT é hoje o alvo a ser destruído, como o PCB foi no passado.

Os comunistas de hoje, para a grande mídia, são os petistas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Stiglitz diz que BC brasileiro estrangula a economia

Jornal GGN - Para Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, a política monetária aplicada pelo Banco Central no Brasil estrangula a economia, e ela deveria se contrapor aos efeitos da queda do preço das commodities. Ele também acha que o BC deveria considerar os efeitos da Operação Lava Jato, reconhecendo que este é um período em que haverá restrição de gastos com contração da construção civil.

Stiglitz também diz que a ideia de aumentar os juros para conter a inflação é uma teoria desacreditada, e que é preciso saber qual é a fonte da inflação. "Não é bom ter inflação em disparada, mas também não é bom matar a economia. E eu acho que eles (o BC brasileiro) perderam esse equilíbrio", afirma. Leia mais abaixo:

Do Estadão

‘O BC no Brasil estrangula a economia’

Às vésperas da reunião do Copom, em que se acredita que o Banco Central pode subir mais uma vez os juros, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, disse em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial, que o BC brasileiro estrangula a economia. Para ele, a política monetária do Brasil deveria se contrapor aos efeitos depressivos da queda do preço das exportações e da Operação Lava Jato. Sobre o quadro mundial, o economista avalia que a economia terá desempenho em 2016 igual ou pior ao de 2015. O Nobel também considera o aumento da desigualdade como outro fator que reduz a demanda global. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.

Como o sr. vê os atuais problemas do Brasil?

A característica distintiva do Brasil é que a política monetária estrangula a economia. Vocês têm uma das mais altas taxas de juros no mundo. Se o Brasil reagisse à queda no preço das exportações com medidas contracíclicas, o País talvez pudesse ter evitado a intensidade da atual crise. Outra questão é que, sempre que ocorrem escândalos de corrupção da magnitude do que acontece agora no Brasil, a economia é jogada para baixo. Isso cria uma espécie de paralisia. O sistema legal no Brasil está colocando muita gente na prisão. Não estou dizendo que não deveriam fazer isso, mas a política monetária deveria reconhecer que este é um período em que haverá restrição de gastos, particularmente no setor público, em que as pessoas serão mais cautelosas em tomar decisões, em que a construção civil vai se contrair.

Mas a inflação está muito mais elevada que o teto de tolerância do sistema de metas.

e modelo que diz que, se a inflação está alta, você sobe os juros é uma teoria que foi desacreditada. É preciso saber qual é a fonte da inflação. Se for excesso de demanda, aí você sobe juros, porque tem de moderar a demanda. Mas se for um impulso dos custos, você tem de ser cuidadoso. Nesse caso, a forma pela qual a alta dos juros reduz a inflação é matando a economia. Se você conseguir desemprego o suficiente, os salários são deprimidos, e você segura a inflação. Mas isso é matar a economia. Não é bom ter inflação em disparada, mas também não é bom matar a economia. E eu acho que eles (o BC brasileiro) perderam esse equilíbrio.

No Brasil, muita gente acha que a culpa é da política fiscal, e não do Banco Central.

Quando a economia se desacelera, as receitas tributárias caem e ocorrem déficits. Se a economia for estimulada, a receita sobe. Dessa forma, a política monetária pode ajudar a política fiscal.

Então o problema no Brasil é a política monetária?

Na verdade, vocês têm dois problemas: o colapso do preço das exportações e o escândalo de corrupção. O que eu disse é que a política monetária deveria se contrapor a esses fatores, mas, em vez disso, ela está agravando o problema.

Como o sr. vê a economia global hoje?

Meu diagnóstico não é nada complicado: há falta de demanda agregada global. Mesmo antes da crise, o que sustentava a economia americana era uma bolha artificial. Se não fosse por ela, a economia teria sido fraca.

Por que a demanda global está fraca?

Olhando em volta do mundo, há quatro razões básicas. A primeira é a desigualdade. As pessoas no topo não gastam tanto (como parte da sua renda) quanto as pessoas na base. Então, à medida que a desigualdade cresce, a demanda se enfraquece. Em segundo lugar, há transformações estruturais acontecendo em quase todos os países. Nos EUA, a transição da indústria manufatureira para os serviços. Na China, das exportações para a demanda interna. Mas os mercados são duros em conduzir essas transições. Tem sempre gente que fica para trás, o que contribui para a desigualdade. Os setores que ficam para trás não podem demandar bens. Em terceiro lugar, a zona do euro está uma bagunça, com políticas econômicas que contribuíram para reduzir o crescimento.

O sr. se refere à austeridade?

Sim, até nos EUA temos uma forma moderada de austeridade, pela pressão política dos Republicanos. Nós temos meio milhão de empregos menos no setor público do que tínhamos em 2008, antes da crise, e, se houvesse uma expansão normal da economia, seriam dois milhões mais. Então temos austeridade nos EUA.

E qual seria o quarto fator para a demanda global enfraquecida?

Sempre que há uma perturbação como a queda do preço do petróleo. Todo mundo esperava que o preço mais baixo estimularia a demanda, mas se esqueceram de que se trata de redistribuição. Os vendedores perdem e os compradores ganham. Se os vendedores diminuem seus gastos em exatamente o mesmo volume que os compradores aumentam, não há nenhuma mudança. Mas há assimetrias. Muitas vezes os que perdem têm de contrair o seu gasto, dólar por dólar, e aqueles que ganham economizam, pois não sabem se o ganho é temporário ou de longo prazo. E os desdobramentos podem ser ainda piores em termos de investimento – uma das fontes de crescimento nos EUA e outros países vinha sendo o investimento em hidrocarbonetos (petróleo e gás). E isso foi cortado. Os efeitos são enormes. Da mesma forma, a desaceleração na China provoca a queda do preço do minério de ferro, e os ganhadores não gastam mais tanto quanto os vendedores gastam menos.

Qual a sua previsão para 2016?

É provável que essas tendências que eu descrevi continuem este ano. Se eu fosse otimista, eu chamaria atenção para o fato de que o orçamento americano acabou sendo melhor do que o esperado, mas há muitos fatores negativos. Não vejo nada positivo na Europa. Acho que muita gente esperava a desaceleração na China, mas não o tamanho da turbulência financeira. Tudo isso me diz que 2016 será tão ruim ou pior do que 2015.

O problema da economia global é demanda, para o senhor. Qual seria a terapia?

A terapia econômica é fácil. O problema é a política. Em termos econômicos, precisamos de um aumento dos gastos do governo nos EUA e na Europa. Nos dois casos, os setores públicos podem tomar emprestado a juros muito baixos. E, por outro lado, é preciso investimento em tecnologia, educação, infraestrutura. Isso estimularia a economia. Compraríamos mais do Brasil, o que ajudaria vocês. Na Europa e nos EUA, temos espaço fiscal, vocês têm menos. Mesmo que os EUA estivessem preocupados com o déficit público, podemos elevar impostos. Nossos impostos são muito baixos. Podemos aumentar impostos, conseguir mais igualdade.

E qual o obstáculo para isso?

O problema maior está nos EUA e na Europa, e se resume à política. Na verdade, é um pouco mais complicado. Nos EUA, é apenas a política. Acredito que há um amplo sentimento no Partido Democrata em favor das políticas que acabei de descrever. Na Europa, é complicado por causa da ideologia alemã. Tenho dúvida de que, caso a oposição vencesse, haveria uma mudança. Os alemães reescreveram a história para acreditar que a inflação foi o problema principal (na ascensão do nazismo), mas o que causou Hitler foi o desemprego. E eles se esqueceram disso. Eles esqueceram que o desemprego é a verdadeira causa da instabilidade social. E eles promovem políticas que causam o desemprego. Então a zona do euro tem de ser reformada, e isso é mais difícil, é um problema estrutural.

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Juros de amor

Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo

FSP 14/01/2016
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, revelou que, entre 2004 e 2014, o
matrimônio entre democracia e Estado Social originou um crescimento real de 56,6% da renda
média domiciliar per capita no Brasil.
Considerando preços de junho de 2011, a renda saltou de R$ 549,83/mês para R$ 861,23/mês, o que
acarretou queda de aproximadamente 65% na taxa de pobreza extrema.
Mas precisamos nos apressar, alertam os Cavaleiros do Apocalipse: sem elevação nas taxas de
juros, redução do salário real, cortes na rede de proteção social e mortes nos hospitais, sofreremos
um revés nos ganhos dos últimos anos.
No Brasil do austericídio rentista, o juro básico, um senhor volúvel, simula fidelidade à
coordenação das expectativas dos formadores de preços, enquanto há anos se entrega aos encantos
da Valorização Cambial.
Dessa relação, nasceu o desmoronamento da indústria brasileira, desarticulação de um sistema de
relações intersetoriais decisivas para a formação e difusão da renda e do emprego na economia.
O trêfego avarento produziu a queda da participação da indústria de transformação no PIB de 16,6%
em 2007 para 10,9% em 2014 e a reversão no saldo da balança comercial de produtos industriais de
um superavit superior a US$ 18 bilhões em 2007 para um deficit de US$ 63,5 bilhões em 2014.
A elevação de 96,5% na taxa Selic, de 7,25% para 14,25%, entre abril de 2013 e julho de 2015,
prometia enfiar a inflação na meta. Traído pelo divórcio da taxa de câmbio e pelo choque de preços
administrados, o abandonado viu a inflação disparar.
Vingou-se na queda de 21,6% na Formação Bruta de Capital Fixo, de 4,5% no consumo das
famílias e de 5,5% do PIB, comparando o terceiro trimestre de 2013 com o mesmo período de 2015.
O Saber Econômico da Avareza, amigo cúmplice, se prontifica a demonstrar que as despesas com
juros e swap cambial são muito menores do que aparentam, a despeito de representarem cinco vezes
o orçamento da saúde e da educação, mais de oito vezes o orçamento do PAC, cinco vezes o deficit
da Previdência e mais de 16 vezes o orçamento do desenvolvimento social.
"Trata-se de uma ilusão de ótica, capaz de ser esclarecida (Kant nos socorra!) por cálculos
abstratos."
O cúmplice mimetiza as "certezas da ciência" para seduzir os teólogos da Razão Instrumental –que
tenham piedade o matemático Kurt Gödel e seu Teorema da Incompletude (impossibilidade
aritmética de um sistema ser simultaneamente completo e consistente).
Na tradição do Tribunal do Santo Ofício, o choque de tarifas e a vingança do câmbio na inflação são
absolvidos. As reduções do juro Selic são condenadas como antinaturais. Já as elevações são
impostas por forças da natureza, como a lei da gravidade. "E pur si muove", exclamaria o duplo
avesso de Galileu.
Os sacerdotes da razão instrumental repreendem os hereges que apontam as conexões entre a queda
do PIB, a derrocada fiscal e a Selic, campeã do Torneio Mundial do Jurômetro. Valem-se da
pertinente e necessária demanda por equilíbrio entre receitas e despesas públicas para incriminar
aposentados, trabalhadores e mães do Bolsa Família pelo "ataque" ao orçamento.
O governo prostra-se diante do cantochão da mídia. Os deficits primários estimados para 2015 pelo
FMI Fiscal Monitor, em outubro, dão mostras de não concordar com os apavorados nativos. Por
exemplo: -5,4% no Japão, -5% na Rússia, -3,1% no Chile, -2,8% na Índia, -2,6% no Reino Unido,
-1,8% nos Estados Unidos, -1,4% na China, -1,2% no México, -0,8% na África do Sul, - 2,6% na
média das economias de baixa renda, -2,4% nas economias emergentes, -1,5% nas economias
avançadas e -0,4% no Brasil. São deficits primários típicos de economias em desaceleração.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 73, é diretor da Facamp (Faculdades de Campinas) e professor
titular do departamento de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi
secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (governo José Sarney)
GABRIEL GALÍPOLO, 33, mestre em economia política e professor do departamento de
Economia da PUC-SP - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, é sócio da Galípolo
Consultoria