quarta-feira, 30 de março de 2016

O Brasil no epicentro da Guerra Híbrida

Por Pepe Escobar | Tradução: Vinícius Gomes Melo e Inês Castilho

A matriz ideológica e o modus operandi das revoluções coloridas já são, a essa altura, de domínio público. Nem tanto o conceito de Guerra Não-Convencional (UW, na sigla em inglês).

Esse conceito surgiu em 2010, derivado do Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças Especiais. Eis a citação-chave: “O objetivo dos esforços dos EUA nesse tipo de guerra é explorar as vulnerabilidades políticas, militares, econômicas e psicológicas de potências hostis, desenvolvendo e apoiando forças de resistência para atingir os objetivos estratégicos dos Estados Unidos […] Num futuro próximo, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerras irregulares (IW, na sigla em inglês)”.

“Potências hostis” são entendidas aqui não apenas no sentido militar; qualquer país que ouse desafiar qualquer fundamento da “ordem” mundial centrada em Washington pode ser rotulado como “hostil” – do Sudão à Argentina.

As ligações perigosas entre as revoluções coloridas e a UW já se transformaram hoje, completamente, em Guerra Híbrida; uma variável deturpada de Flores do Mal. Rrevolução colorida nada mais é que o primeiro estágio daquilo que se tornará a Guerra Híbrida. E Guerra Híbrida pode ser interpretada essencialmente como a Teoria do Caos armada – um conceito absoluto queridinho dos militares norte-americanos (“a política é a continuidade da guerra por meios linguísticos”). Meu livro Império do Caos, de 2014, trata essencialmente de rastrear uma miríade de suas ramificações.

Essa bem fundamentada tese tripartite esclarece o objetivo central por trás de uma Guerra Híbrida em larga escala: “destruir projetos conectados transnacionais multipolares por meio de conflitos provocados externamente (étnicos, religiosos, políticos etc.) dentro de um país alvo”.

Os países do BRICS (Brasil Rússia, Índia, China e África do Sul) – uma sigla/conceito amaldiçoada no eixo Casa Branca-Wall Street – só tinham de ser os primeiros alvos da Guerra Híbrida. Por uma miríade de razões, entre ela: o plano de realizar comércio e negócios em suas próprias moedas, evitando o dólar norte-americano; a criação do banco de desenvolvimento dos BRICS; a declarada intenção de aumentar a integração na Eurásia, simbolizada pela hoje convergente “Rota da Seda”, liderada pela China – Um Cinturão, Uma Estrada (OBOR, na sigla em inglês), na terminologia oficial – e pela União Econômica da Eurásia, liderada pela Rússia (EEU, na sigla em inglês).

Isso implica em que, mais cedo do que tarde, a Guerra Híbrida atingirá a Ásia Central; o Quirguistão, primeiro laboratório para as experiências tipo revolução colorida dos Excepcionalistas, é o candidato ideal.

Tal como é definida, a Guerra Híbrida está muito ativa nas fronteiras ocidentais da Rússia (Ucrânia), mas ainda embrionária em Xinjiang, oeste longínquo da China, que Pequim microgerencia como um gavião. A Guerra Híbrida já está sendo aplicada para evitar o estratagema da construção de um oleoduto crucial, a construção da Fluxo da Turquia. E será também totalmente aplicada para interromper a Rota da Seda nos Bálcãs – vital para a integração comercial da China com a Europa Oriental.

Uma vez que os BRICS são a única e verdadeira força em contraposição ao Excepcionalista, foi necessário desenvolver uma estratégia para cada um de seus principais personagens. O jogo foi pesado contra a Rússia – de sanções à completa demonização, passando por um ataque frontal a sua moeda numa guerra de preços do petróleo e incluindo até mesmo uma (patética) tentativa de iniciar uma revolução colorida nas ruas de Moscou. Para um membro mais fraco dos BRICS, foi preciso utilizar uma estratégia mais sutil, o que nos traz para a complexidade da Guerra Híbrida aplicada para a atual, maciça desestabilização política e econômica do Brasil.

No manual da Guerra Híbrida, a percepção da influência de uma vasta “classe média descomprometida” é essencial para chegar ao sucesso, de forma que esses descomprometidos tornem-se, mais cedo ou mais tarde, contrários a seus líderes políticos. O processo inclui tudo, de “apoio à insurgência” (como na Síria) a “ampliação do descontentamento por meio de propaganda e esforços políticos e psicológicos para desacreditar o governo” (como no Brasil). E conforme cresce a insurreição, cresce também a “intensificação da propaganda; e a preparação psicológica da população para a rebelião.” Esse, em resumo, tem sido o caso brasileiro.

Precisamos do nosso próprio Saddam

Um dos maiores objetivos estratégicos dos Excepcionalistas é em geral ter uma mistura de revolução colorida e Guerra Híbrida. Mas a sociedade civil e vibrante democracia do Brasil era muito sofisticada para métodos pesados tais como sanções ou a “responsabilidade de proteger” (R2P, na sigla em inglês).

Não é à toa que São Paulo tenha se tornado o epicentro da Guerra Híbrida contra o Brasil. Capital do estado mais rico do Brasil e também capital econômico-financeira da América Latina, São Paulo é o nódulo central de uma estrutura de poder interconectada nacional e internacionalmente.

O sistema financeiro global centrado em Wall Street – que domina virtualmente o Ocidente inteiro – não podia simplesmente aceitar a soberania nacional, em sua completa expressão, num ator regional da importância do Brasil.

A “Primavera Brasileira” foi virtualmente invisível, no início, um fenômeno exclusivo das mídias sociais – tal qual a Síria, no começo de 2011.

Foi quando, em junho de 2013, Edward Snowden revelou as famosas práticas de espionagem da NSA. No Brasil, a questão era espionar a Petrobras. E então, num passe de mágica, um juiz regional de primeira instância, Sérgio Moro, com base numa única fonte – um doleiro, operador de câmbio no mercado negro – teve acesso a um grande volume de documentos sobre a Petrobras. Até o momento, a investigação de dois anos da Lava Jato não revelou como eles conseguiram saber tanto sobre o que chamaram de “célula criminosa” que agia dentro da Petrobras.

O importante é que o modus operandi da revolução colorida – a luta contra a corrupção e “em defesa da democracia” – já estava sendo colocada em prática. Aquele era o primeiro passo da Guerra Híbrida.

Como cunhado pelos Excepcionalistas, há “bons” e “maus” terroristas causando estragos em toda a “Siraq”; no Brasil há uma explosão das figuras do corrupto “bom” e do corrupto “ruim”.

O Wikileaks revelou também como os Excepcionalistas duvidaram da capacidade do Brasil de projetar um submarino nuclear – uma questão de segurança nacional. Como a construtora Odebrecht tornava-se global. Como a Petrobras desenvolveu, por conta própria, a tecnologia para explorar depósitos do pré sal – a maior descoberta de petróleo deste jovem século 21, da qual as Grandes Petrolíferas dos EUA foram excluidas por ninguém menos que Lula.

Então, como resultado das revelações de Snowden, a administração Roussef exigiu que todas as agências do governo usassem empresas estatais em seus serviços de tecnologia. Isso poderia significar que as companhias norte-americanas perderiam até US$ 35 bilhões de receita em dois anos, ao ser excluídos de negociar na 7ª maior economia do mundo – como descobriu o grupo de pesquisa Fundação para a Informação, Tecnologia & Inovação (Information Technology & Innovation Foundation).

O futuro acontece agora

A marcha em direção à Guerra Híbrida no Brasil teve pouco a ver com as tendências políticas de direita ou esquerda. Foi basicamente sobre a mobilização de algumas famílias ultra ricas que governam de fato o país; da compra de grandes parcelas do Congresso; do controle dos meios de comunicação; do comportamento de donos de escravos do século 19 (a escravidão ainda permeia todas as relações sociais no Brasil); e de legitimar tudo isso por meio de uma robusta, embora espúria tradição intelectual.

Eles dariam o sinal para a mobilização da classe média. O sociólogo Jesse de Souza identificou uma freudiana “gratificação substitutiva”, fenômeno pelo qual a classe média brasileira – grande parte da qual clama agora pela mudança do regime – imita os poucos ultra ricos, embora seja impiedosamente explorada por eles, através de um monte de impostos e altíssimas taxas de juros.

Os 0,0001% ultra ricos e as classes médias precisavam de um Outro para demonizar – no estilo Excepcionalista. E nada poderia ser mais perfeito para o velho complexo da elite judicial-policial-midiática do que a figura de um Saddam Hussein tropical: o ex-presidente Lula.

“Movimentos” de ultra direita financiados pelos nefastos Irmãos Kock pipocaram repentinamente nas redes sociais e nos protestos de rua. O procurador geral de justiça do Brasil visitou o Império do Caos chefiando uma equipe da Lava Jato para distribuir informações sobre a Petrobras que poderiam sustentar acusações do Ministério da Justiça. A Lava Jato e o – imensamente corrupto – Congresso brasileiro, que irá agora deliberar sobre o possível impeachment da presidente Roussef, revelaram-se uma coisa só.

Àquela altura, os roteiristas estavar seguros de que a infra-estrutura social para a mudança de regime já havia produzido uma massa crítica anti-governo, permitindo assim o pleno florescimento da revolução colorida. O caminho para um golpe soft estava pavimentado – sem ter sequer de recorrer ao mortal terrorismo urbano (como na Ucrânia). O problema era que, se o golpe soft falhasse – como parece ser pelo menos possível, agora – seria muito difícil desencadear um golpe duro, estilo Pinochet, através da UW, contra a administração sitiada de Roussef; ou seja, executando finalmente a Guerra Híbrida Total.

No nível socioeconômico, a Lava Jato seria um “sucesso” total somente se fosse espelhada por um abrandamento das leis brasileiras que regulam a exploração do petróleo, abrindo-a para as Grandes Petrolíferas dos EUA. Paralelamente, todos os investimentos em programas sociais teriam de ser esmagados.

Ao contrário, o que está acontecendo agora é a mobilização progressiva da sociedade civil brasileira contra o cenário de golpe branco/golpe soft/mudança de regime. Atores cruciais da sociedade brasileira estão se posicionando firmemente contra o impeachment da presidente Rousseff, da igreja católica aos evangélicos; professores universitários do primeiro escalão; ao menos 15 governadores estaduais; massas de trabalhadores sindicalizados e trabalhadores da “economia informal”; artistas; intelectuais de destaque; juristas; a grande maioria dos advogados; e por último, mas não menos importante, o “Brasil profundo” que elegeu Rousseff legalmente, com 54,5 milhões de votos.

A disputa não chegará ao fim até que se ouça o canto de algum homem gordo do Supremo Tribunal Federal. Certo é que os acadêmicos brasileiros independentes já estão lançando as bases para pesquisar a Lava Jato não como uma operação anti-corrupção simples e maciça; mas como estudo de caso final da estratégia geopolítica dos Exceptionalistas, aplicada a um ambiente globalizado sofisticado, dominado por tecnologia da informação e redes sociais. Todo o mundo em desenvolvimento deveria ficar inteiramente alerta – e aprender as relevantes lições, já que o Brasil está fadado a ser visto como último caso da Soft Guerra Híbrida.

terça-feira, 29 de março de 2016

CIRO: TEMER É ANÃO MORAL, SÓCIO DE CUNHA

247 - Pré-candidato a presidente da República pelo PDT e ex-ministro, Ciro Gomes não poupou críticas ao vice-presidente Michel Temer por ter liderado o PMDB no desembarque do governo Dilma Rousseff.

"Acabo de assistir a uma das cenas mais repugnantes de minha já longa vida política. Em apenas três minutos o PMDB anunciou o abandono do governo da presidente Dilma após 5 anos de fisiologia e roubalheira. Trata-se de capítulo que deve encher de vergonha todo e qualquer cidadão ou cidadã deste sofrido País!", disse.

Ele classificou Temer como "anão moral, traidor e parceiro intimo de tudo que não presta, à frente deste capítulo do golpe de estado em marcha no Brasil".

Abaixo a publicação na íntegra:

"Acabo de assistir a uma das cenas mais repugnantes de minha já longa vida política. Em apenas três minutos o PMDB anunciou o abandono do governo da presidente Dilma após 5 anos de fisiologia e roubalheira. Trata-se de capítulo que deve encher de vergonha todo e qualquer cidadão ou cidadã deste sofrido País!

Como anão moral, traidor e parceiro intimo de tudo que não presta, à frente deste capítulo do golpe de estado em marcha no Brasil, Michel Temer e seu sócio Eduardo Cunha.
Levantemo-nos, povo brasileiro! VAI TER LUTA!"

quarta-feira, 9 de março de 2016

Cronologia das intervenções militares norte-americanas


23.06.2005 | Fonte de informações: Pravda.ru

Século XIX (19)

1846 – 1848 – México – Por causa da anexação, pelos EUA, da República do Texas
1890 - Argentina - Tropas americanas desembarcam em Buenos Aires para defender interesses econômicos americanos.
1891 - Chile - Fuzileiros Navais esmagam forças rebeldes nacionalistas.
1891 - Haiti - Tropas americanas debelam a revolta de operários negros na ilha de Navassa, reclamada pelos EUA.
1893 - Hawaí - Marinha enviada para suprimir o reinado independente e anexar o Hawaí aos EUA.
1894 - Nicarágua - Tropas ocupam Bluefields, cidade do mar do Caribe, durante um mês.
1894 - 1895 - China - Marinha, Exército e Fuzileiros desembarcam no país durante a guerra sino-japonesa.
1894 - 1896 - Coréia - Tropas permanecem em Seul durante a guerra.
1895 - Panamá - Tropas desembarcam no porto de Corinto, província Colombiana.
1898 – (a 1900) - China - Tropas ocupam a China durante a Rebelião Boxer.
1898 – (a 1910) - Filipinas - As Filipinas lutam pela independência do país, dominado pelos EUA (Massacres de Balangica, Samar, Filipinas - 27/09/1901 e Bud Bagsak, Sulu, Filipinas -11/15/1913) - 600.000 filipinos mortos.
1898 – (a 1902) - Cuba - Tropas sitiaram Cuba durante a guerra hispano-americana.
1898 - Presente - Porto Rico - Tropas sitiaram Porto Rico na guerra hispano-americana, hoje 'Estado Livre Associado'.
1898 - Guam - Marinha americana desembarca na ilha e mantêm base naval até hoje.
1898 - Guerra Hispano-Americana - Desencadeada pela misteriosa explosão do encouraçado Maine, em 15 de fevereiro, na Baía de Havana. Esta guerra marca o surgimento dos EUA como potência mundial.
1898 - Nicarágua - Fuzileiros Navais invadem o porto de San Juan del Sur.
1899 - Samoa - Tropas desembarcam em conseqüência de conflito pela sucessão do trono.
1899 - Nicarágua - Tropas desembarcam no porto de Bluefields (2ª vez).
Século XX (20)
1901 - 1914 - Panamá - Marinha apóia a revolução quando o Panamá reclamou independência da Colômbia; tropas americanas ocupam o canal desde 1901, quando teve início sua construção.
1903 - Honduras - Fuzileiros Navais desembarcam e intervem na revolução.
1903 - 1904 - República Dominicana - Tropas invadiram para proteger interesses americanos durante a revolução.
1904 - 1905 - Coréia - Fuzileiros Navais desembarcaram durante a guerra russo-japonesa.
1906 - 1909 - Cuba -Tropas desembarcam durante período de eleições.
1907 - Nicarágua - Tropas americanas invadem e impõem a criação de um protetorado.
1907 - Honduras - Fuzileiros Navais desembarcam durante a guerra de Honduras com a Nicarágua.
1908 - Panamá - Fuzileiros Navais são enviados durante período de eleições.
1910 - Nicarágua - Fuzileiros navais desembarcam pela 3ª vez em Bluefields e Corinto.
1911 - Honduras - Tropas enviadas para proteger interesses americanos durante a guerra civil.
1911 - 1941 - China - Marinha e tropas enviadas durante período de repetidos combates.
1912 - Cuba - Tropas enviadas para proteger interesses americanos em Havana.
1912 - Panamá - Fuzileiros ocupam o país durante eleições.
1912 - Honduras - Tropas enviadas para proteger interesses americanos.
1912 - 1933 - Nicarágua - Tropas ocupam o país para combater guerrilheiros durante 20 anos de guerra civil.
1913 - México - Marinha evacua cidadãos americanos durante a revolução.
1913 - México - Durante a Revolução mexicana, os Estados Unidos bloqueiam as fronteiras mexicanas em apoio aos revolucionários.
1914 - 1918 - Primeira Guerra Mundial - Os EUA entram no conflito em 6 de abril de 1917 declarando guerra à Alemanha. As perdas americanas chegaram a 114 mil homens.
1914 - República Dominicana - Marinha luta contra rebeldes em Santo Domingo.
1914 - 1918 - México - Marinha e tropas intervem contra nacionalistas.
1915 - 1934 - Tropas americanas desembarcam no Haiti, em 28 de julho, e transformam o país num virtual protetorado americano, permanecem durante 19 anos.
1916 - 1924 - República Dominicana - Os EUA estabelecem um governo militar na República Dominicana, em 29 de novembro, permanecem durante 8 anos.
1917 - 1933 - Cuba - Tropas americanas desembarcam em Cuba, e transformam o país num protetorado econômico americano, permanecem durante 16 anos.
1918 - 1922 - Rússia - Marinha e tropas enviadas para combater a revolução Bolchevista. O Exército realizou cinco desembarques.
1919 - Honduras - Fuzileiros desembarcam durante eleições.
1918 - Iugoslávia - Tropas intervem ao lado da Itália contra os sérvios na Dalmácia.
1920 - Guatemala - Tropas ocupam o país durante greve operária.
1922 - Turquia - Tropas combatem nacionalistas em Smirna.
1922 - 1927 - China - Marinha e Exército deslocados durante revolta nacionalista.
1924 - 1925 - Honduras - Tropas desembarcam duas vezes durante eleição nacional.
1925 - Panamá - Tropas enviadas para debelar greve geral.
1927 - 1934 - China - Mil fuzileiros desembarcam na China durante a guerra civil local e permanecem durante 7 anos.
1932 - El Salvador - Navios de Guerra deslocados durante revolta FMLN comandadas por Marti.
1939 - 1945 - Segunda Guerra Mundial (na EUROPA guerra contra o eixo - Alemanha Nazi e Itália Fascista e Japão) - Os EUA declaram guerra ao Japão em 8 de dezembro de 1941, depois do ataque à base de Pearl Harbor. As perdas americanas chegaram a 300 mil homens.
1946 - Irã - Marinha americana ameaça usar artefatos nucleares contra tropas soviéticas caso as mesmas não abandonem a fronteira norte do Irã.
1946 - Iugoslávia - Presença da marinha na zona costeira em resposta à aeronave americana abatida.
1947 - 1949 - Grécia - Operação de Comandos dos EUA garantem vitória da extrema direita nas "eleições".
1947 - Venezuela - Em um acordo com os militares nativos, os EUA derrubam o presidente Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado.
1948 - Alemanha - Militares destacados durante bloqueio de Berlim, ponte aérea durou 444 dias. A ponte aérea foi vigiada por bombardeios nucleares.
1948 - 1949 - China - Fuzileiros apóiam a evacuação de cidadãos americanos antes da vitória comunista.
1948 - 1954 - Filipinas - a CIA coordena a guerra civil contra a revolta Filipo Huk.
1950 - Porto Rico - Comandos militares ajudam a esmagar rebelião de independência em Ponce.
1951 - 1953 - Coréia - Início do conflito entre a República Democrática da Coréia (Norte) e República da Coréia (Sul), na qual cerca de 3 milhões de pessoas morreram. Os Estados Unidos são um dos principais protagonistas, através das Nações Unidas, ao lado dos sul-coreanos. A guerra termina em julho de 1953 sem vencedores e com dois estados polarizados: comunistas ao norte e um governo pró-ocidente ao sul. Os EUA perderam 33 mil homens
1953 - Irã - A CIA orquestrou o golpe que depõe o primeiro-ministro iraniano Mohamed Mossadegh e instaura a sangrenta ditadura do xá Reza Pahlevi. Mossadegh havia nacionalizado o complexo petrolífero anglo-americano.
1954 - Vietnã - Os EUA oferecem armas aos franceses na batalha contra Ho Chi Minh e o Vietminh.
1954 - Guatemala - Comandos americanos, sob controle da CIA, derrubam Arbenz, democraticamente eleito, e impõem o coronel Armas no governo. Jacobo Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e impulsionado a Reforma Agrária.
1956 - Egito - Nasser nacionaliza o canal de Suez. Durante os combates no Canal, a Sexta Frota dos EUA evacua 2.500 americanos que viviam na região e obriga a coalizão franco-israelense-britânica a retirar-se do canal.
1958 - Líbano - Marinha apóia exército de ocupação do Líbano durante sua guerra civil.
1958 - Iraque - O Iraque é ameaçado com artefatos nucleares para que não invada o Kuwait.
1958 - China - A China é ameaçada com artefatos nucleares para que não invada o arquipélago de Taiwan.
1958 - Panamá - Tropas contem manifestantes nacionalistas.
1961 - 1975 - Vietnã. Aliados aos sul-vietnamitas, os americanos tentam impedir, sem sucesso, a formação de um estado comunista, unindo o sul e o norte do país. Inicialmente, participação americana se restringe a ajuda econômica e militar (conselheiros e material bélico). Em agosto de 1964, após ataques norte-vietnamitas ao destróier americano Maddox, o congresso americano autoriza o presidente a lançar os EUA em guerra. Os Estados Unidos deixam de ser simples consultores do exército do Vietnã do Sul e entram num conflito traumático, que afetaria toda a política militar dali para frente. A morte de quase 60 mil jovens americanos e a humilhação imposta pela derrota do Sul em 1975, dois anos depois da retirada dos Estados Unidos, moldaram a estratégia futura de evitar guerras que impusessem um custo muito alto de vidas americanas e nas quais houvesse inimigos difíceis de derrotar de forma convencional, como os vietcongues e suas táticas de guerrilha.
1961 - Cuba - Exilados cubanos anticastristas, apoiados pelo governo norte-americano de John Kennedy, invadem a baía dos Porcos, em Cuba, numa tentativa fracassada de derrubar o governo de Fidel Castro.
1962 - Cuba - Marinha isola Cuba durante a crise dos mísseis. Quase provocando uma guerra com a URSS.
1962 - Laos - Militares ocupam o Laos durante guerra civil contra guerrilhas do Pathet Lao.
1964 - Panamá - Militares americanos mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do canal, a bandeira estrelada pela bandeira de seu país.
1965 - Congresso dos EUA reconhece unilateralmente o “direito” de os EUA intervirem militarmente em qualquer país do Continente.
1965 - Indonésia - Com apoio da CIA, o general Suharto desfecha um golpe para depor o presidente Sukarno. O golpe resultou na morte de 600.000 indonésios.
1965 - 1966 - República Dominicana - Trinta mil fuzileiros e pára-quedistas desembarcam em São Domingo para impedir a escalada comunista. A CIA conduz Joaquín Balaguer à presidência, consumando um golpe que depôs o presidente eleito Juan Bosch. O país já fora ocupado pelos americanos de 1916 a 1924.
1966 - 1967 - Guatemala - Boinas Verdes invadem o país para combater movimento rebelde.
1969 - 1975 - Camboja - Militares enviados depois que a Guerra do Vietnã se expandiu ao Camboja.
1970 - Oman - Fuzileiros desembarcam em preparação à invasão do Irã.
1971 - 1975 - Laos - EUA dirigem a invasão sul-vietnaita bombardeando a região rural do país.
1971 - Bangladesh - Usando armas fornecidas pelos Estados Unidos, o general Iahia Khan derruba o governo eleito e massacra 500 mil civis.
1973 - Chile - CIA coordenou o golpe que depõe Salvador Allende, eleito democraticamente, assassina o general René Schneider e o chanceler Orlando Leteliere e ajudou na instalação do regime do Gen Pinochet.
1975 - Camboja - 28 americanos mortos na tentativa de resgatar a tripulação do petroleiro Mayaquez.
1975 - Timor-Leste - Com o apoio de Henry Kissinger, Suharto ocupa o país, recém-independente de Portugal. Morrem 200 mil civis.
1976 - 1992 - Angola - CIA ajuda rebeldes da África do Sul na luta contra Angola marxista.
1976 - Argentina - Golpe desfechado pelo general Jorge Rafael Videla, com apoio da CIA, instituiu a ditadura responsável pelo "desaparecimento" de 30 mil pessoas.
1980 - Irã - Na inauguração do terrorismo de estado desenhado pelo Aiatolá Khomeini, estudantes que haviam participado da Revolução Islâmica do Irã ocuparam a embaixada americana em Teerã e fizeram 60 reféns. O governo americano preparou uma operação militar supresa para executar o resgate, frustrada por tempestades de areia e falhas em equipamentos. Em meio à frustrada operação, oito militares americanos morreram no choque entre um helicóptero e um avião. Os reféns só seriam libertados um ano depois do seqüestro, o que enfraqueceu o então presidente Jimmy Carter e elegeu Ronald Reagan, que conseguiu aprovar o maior orçamento militar em época de paz até então.
1980 - América Central - O Comando Sul do Exército dos EUA treina soldados e "agentes" especializados em espionagem e tortura para atuar em El Salvador, Guatemala, Honduras e Granada.
1981 - Líbia - Dois caças Líbios abatidos durante manobras militares na região.
1981 - 1992 - El Salvador - Tropas e conselheiros da CIA colaboram na luta contra a FMLN.
1981 - 1990 - Nicarágua - Na Nicarágua, onde a revolução sandinista de 1979, pôs fim à ditadura de Somoza, a contra-revolução foi estimulada e apoiada desde o início pelo imperialismo norte-americano. Os "contra" foram financiados e treinados pelos EUA. Terrorismo, sabotagem e bloqueio económico, minagem de portos, a tudo recorreram. Impuseram negociações que significaram mais sacrifícios para os nicaraguenses. Aos 70 mil desmobilizados não foi garantido, como prometido, a posse e uso da terra. O desemprego e a miséria explodiram. Mas os "interesses" dos EUA foram salvaguardados pela direita que voltou ao poder.
1982 - 1984 - Líbano - Os Estados Unidos se envolveram nos conflitos do Líbano logo após a invasão do país por Israel - e acabaram envolvidos na guerra civil que dividiu o país. Em 1980, os americanos supervisionaram a retirada da Organização pela Libertação da Palestina de Beirute. Na segunda intervenção, 1.800 soldados integraram uma força conjunta de vários países, que deveriam restaurar a ordem após o massacre de refugiados palestinos por libaneses aliados a Israel. O custo foi um ato de terror, quando um carro bomba matou 241 fuzileiros navais.
1983 - 1984 - Granada - Após um bloqueio econômico de 4 anos a CIA coordena esforços que resultam no assassinato do 1º Ministro Maurice Bishop. Seguindo a política de intervenção externa de Ronald Reagan, os Estados Unidos invadiram a ilha caribenha de Granada alegando prestar proteção a 600 estudantes americanos que estavam no país, as tropas eliminaram a influência de Cuba e da União Soviética sobre a política da ilha.
1983 - 1989 - Honduras - Tropas enviadas para construir bases em regiões próximas à fronteira.
1984 - Irã - Caças americanos abatem dois aviões iranianos no Golfo Pérsico.
1986 - Bolívia - Exército americano auxilia tropas bolivianas em incursões nas áreas de cocaína.
1986 - Líbia - Atribuído ao presidente da Líbia, Muammar Khadafi, um ataque terrorista a uma boate em Berlim frequentada por agentes do governo americano detonou uma severa resposta militar do governo Reagan. Um violento ataque aéreo a Tripoli atingiu instalações que supostamente abrigariam centros de treinamento e apoio a atividades terroristas, matando a filha caçula de Khadafi. Para os EUA de Ronald Reagan, Khadafi representava o mesmo que Osama bin Laden significa hoje para George W. Bush - filho do vice-presidente e sucessor de Reagan..
1987 - 1988 - Irã - EUA intervêm ao lado do Iraque na Guerra contra o Irã.
1989 - Líbia - Marinha abate dois caças líbios.
1989 - Ilhas Virgens - Tropas americanas desembarcam durante revolta popular.
1989 - Filipinas - Força Aérea deu cobertura ao governo durante golpe.
1989 - Panamá - Batizada de Operação Causa Justa, a intervenção americana no Panamá foi provavelmente a maior batida policial de todos os tempos: 27 mil soldados ocuparam a ilha para prender o presidente panamenho, Manuel Noriega, um antigo aliado do governo americano. Os Estados Unidos justificaram a operação como sendo fundamental para proteger o Canal do Panamá, defender 35 mil americanos que viviam no país, promover a democracia e interromper o tráfico de drogas, que teria em Noriega seu líder na América Central. O ex-presidente cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos. Foram mortos 3.000 militares e cidadãos panamenhos.
1990 - Libéria - Tropas evacuam estrangeiros durante guerra civil.
1990 - 1991 - Iraque - Após a invasão do Iraque ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, a OTAN e os Estados Unidos decidem impor um embargo econômico ao país, seguido de uma coalizão anti-Iraque (reunindo além dos países europeus membros da Otan, o Egito e outros países árabes) que ganhou o título de "Operação Tempestade no Deserto". As hostilidades começaram em 16 de janeiro de 1991, um dia depois do fim do prazo dado ao Iraque para retirar tropas do Kuwait. Para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, o então presidente George Bush destacou mais de 500 mil soldados americanos para a Guerra do Golfo. Além de garantir o suprimento de petróleo, ameaçado pela postura belicista de Saddan Hussein, os Estados Unidos acreditavam que conseguiriam forçar o ditador - que recebera apoio americano durante a guerra contra o Irã - para fora da presidência do Iraque. Saddam não saiu do poder, mas foi obrigado a deixar o Kuwait e assinar uma rendição que impões severas sanções econômicas ao seu país. Apesar de incompleto, o resultado foi considerado uma vitória da estratégia desenhada pelo então chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Collin Powell, hoje secretário de Estado do presidente George W. Bush. A estratégia inclui um massacrante ataque aéreo e à distância, usando mísseis de alta tecnologia, destinados a destruir o inimigo e suas instalações oferecendo poucos riscos aos soldados americanos. Um saldo de 130.000 iraquianos mortos.
1990 - 1991 - Arábia Saudita - Tropas americanas destacadas para a Arábia Saudita que era base militar na guerra contra Iraque. Lá permanecem até hoje.
1992 - 1994 - Somália - Tropas americanas, num total de 25 mil soldados, foram à Somália como parte de uma missão da ONU para distribuir mantimentos para a população esfomeada. Em dezembro, forças militares norte-americanas (comando Delta e Rangers) chegam a Somália para intervir numa guerra entre as facções do então presidente Ali Mahdi Muhammad e tropas do general rebelde Farah Aidib. Sofrem uma fragorosa derrota.
1993 - 1995 - Bósnia - Força Aérea bombardeia a "zona proibida aos aviões" durante guerra civil na Iugoslávia.
1993 - Iraque -No início do governo Clinton, é lançado um ataque contra instalações militares iraquianas, em retaliação a um suposto atentado, não concretizado, contra o ex-presidente Bush, em visita ao Kuwait.
1994 - 1999 - Haiti - Enviadas pelo presidente Bill Clinton, tropas americanas ocuparam o Haiti para devolver o poder ao presidente eleito Jean-Betrand Aristide, derrubado por um golpe. Além de restaurar a democracia e promover a paz, a operação visava evitar que o conflito interno provocasse uma onda de refugiados haitianos em busca de refúgio nos Estados Unidos. A invasão foi a fachada mediática para contornar um período de enormes dificuldades internas para Clinton, acrescidas pela derrota sofrida na Somália. Também nesta ocasião o drama dos refugiados foi utilizado à exaustão para justificar a intervenção. Mas, sob o domínio dos EUA, a miséria e o despotismo continuam. Os Estados Unidos saíram do Haiti em 1999.
1995 - Bósnia - Batizado de Operação Força Deliberada, o maior ataque da história da OTAN bombardeou pelo ar a Bósnia, logo após o bombardeio de um mercado em Sarajevo por sérvios bósnios, que aceitaram negociar um acordo de paz.
1996 - 1997 - Zaire(Congo) - Fuzileiros Navais enviados à área dos campos de refugiados Hutus onde a revolução congolesa iniciou.
1997 - Libéria - Tropas evacuam estrangeiros durante guerra civil sob fogo dos rebeldes.
1997 - Albânia - Tropas evacuam estrangeiros.
1998 - Sudão - Mísseis americanos destroem "Centro Industrial farmacêutico" onde se supunha que componentes do 'gás nervoso' eram fabricados matando dezenas de civis.
1998 - Afeganistão - Ataque de mísseis a antigos campos de treinamento de terroristas.
1998 - 2002 - Iraque - Bombardeio de mísseis depois que inspetores de armas alegam que os iraquianos não estão cooperando com as inspeções.
1999 - Iugoslávia - Por causa de acusações de limpeza étnica e outros crimes que estariam sendo cometidos pelos iugoslavos comandados por Slobodan Milosevic, a OTAN e os Estados Unidos promoveram a Operação Força Aliada, um violento ataque aéreo à Sérvia, que durou 11 meses, - o presidente Clinton descartou o emprego de tropas terrestres e avisou que os bombardeios continuariam enquanto fosse necessário. Milosevic se rendeu, mas o violento ataque atingiu alvos civis e provocou uma onda de refugiados em busca de segurança nos países vizinhos.
Século XXI (21)
2000 - Colômbia - Marines e "assessores especiais" dos EUA iniciam o Plano Colômbia, que inclui o bombardeamento da floresta com um fungo transgênico - fusarium axyporum (o "gás verde").
2001 - Afeganistão - Os EUA bombardeiam várias cidades afegãs, em resposta ao ataque terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Começa a caçada ao terror.
2003 - Iraque - Sob a alegação de Saddam Hussein esconder armas de destruição e financiar terroristas, os EUA iniciam intensos ataques ao Iraque. Batizada pelos EUA de "Operação Liberdade do Iraque" e por Saddam de "A Última Batalha", a guerra começa com o apoio apenas da Grã-Bretanha, sem o endosso da ONU e sob protestos de manifestantes e de governos no mundo inteiro.
(Quem será o próximo País a ser invadido? – Cuba, Venezuela, (Brasil), Bolívia, Coreia do Norte, Líbia, Sudão, Congo - Kinshassa ou Zimbabué?)
João CRAVEIRINHA
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quinta-feira, 3 de março de 2016

De mal a pior: novo cenário da velha política

De mal a pior: novo cenário da velha política

Os EUA contra a esquerda: teoria conspiratória?


POR FRANCK GAUDICHAUD
– ON 02/03/2016

O secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger com o ditador chileno, Augusto Pinochet.

EUA tramaram por anos, com oposição a Allende, generais e mídia, para viabilizar golpe militar
É tolo pensar que, por trás das crises vividas pelos governos sul-americanos, há apenas o dedo de Washington. Mas é ingênuo desconsiderá-lo, mostra a História

Por Franck Gaudichaud | Tradução Cauê Seignemartin Ameni

“A todo momento — escreveu em 1959 o jornalista Herbert Matthews — a questão se coloca: se não tivéssemos a America Latina do nosso lado, nossa situação seria dramática. Sem acesso aos produtos e ao mercado latino-americano, os EUA seria reduzidos ao status de potência de segunda classe”. (The New York Times, 26 de abril, 1959). Desta preocupação surge, no início do século XIX, a imagem da região como um “quintal”, que os EUA devem proteger — e submeter — custe o que custar. O projeto, inicialmente, tem o verniz de uma preocupação solidária: em 1823, o presidente James Monroe condena o imperialismo europeu e proclama “a América para os americanos”. Porém, sua doutrina logo transforma-se num instrumento de dominação do Norte sobre o Sul do continente.

Às vezes violento, às vezes discreto, o expansionismo dos EUA na América Latina molda de tal modo a história do continente que diversos intelectuais continuam a ver a mão invisível de Washington por trás de cada obstáculo que faz as forças progressistas da região tropeçarem. Quando procuram os responsáveis por seus problemas domésticos, alguns governos latino-americanos flertam às vezes com teorias conspiratórias. Porém, é preciso notar que o sentimento anti-yankee não caiu do céu no continente de José Marti (1): resulta de mais de 150 anos de ingerência real, de inúmeros golpes e complôs, manifestações de uma vontade de hegemonia que viveu diversas transformações históricas.

Entre 1846 e 1848, o México viu metade de seu território ser anexado pelo seu vizinho ao norte. Entre 1898 e 1934, os militares norte-americanos interviram 26 vezes na América Central: derrubaram presidentes, instalando outros em seu lugar; foi a épcoa do domínio sobre Cuba e Porto Rico (1898); e assumiram o controle do canal interoceânico da antiga província colombiana do Panamá (1903). Abre-se, então, uma fase de imperialismo militar, que seria sucedida pela “diplomacia do dólar” e a captura dos recursos naturais por empresas como a United Fruit Company, fundada em 1899.

A caixa de ferramentas imperiais de Washington não parece necessariamente a um arsenal militar. Em 1924, Robert Lansing, secretário de Estado do presidente Woodrow Wilson observa: “Devemos abandonar a ideia de instalar um cidadão americano na presidência mexicana, ou seremos levados inevitavelmente a uma nova guerra. A solução requer mais tempo. Devemos abrir as portas de nossas Universidades aos jovens mexicanos ambiciosos e ensinar-lhes nosso modo de vida, nossos valores assim como o respeito a nossa ascendência política. (…) Em poucos anos, esses jovens ocuparão cargos importantes, começando com a presidência. Sem que os Estados Unidos tenham que gastar um único centavo ou disparar um único tiro. Assim, eles farão o que queremos e eles farão melhor e de modo mais entusiasmado do que faríamos nós mesmos”(2). As universidades abrem-se, sem que se abandonem as táticas militares. Em 1927, na Nicaragua, os marines criam a Guarda Nacional, à frente da qual instalam o futuro ditador Anastasio Somoza.

Com a Guerra Fria, Washington desenvolveu uma nova doutrina chamada de “segurança nacional”. O choque causado pela Revolução Cubana (1959), a formação de guerrilhas marxistas – em El Salvador e Colômbia, em particular –, a disseminação da Teologia da Libertação, a tentativa de um “caminho chileno ao socialismo” (1970-1973) e a insurreição sandinista na Nicarágua (1979) incitaram as cruzadas anticomunistas dos EUA.

Fidel Castro foi alvo de 638 tentativas de assassinato

Como revelam cruamente milhares de arquivos, hoje retirados de sigilo, a CIA, Agência Central de Inteligência – fundada em 1947 – e o Pentágono mostram-se dispostos a tudo: campanhas midiaticas de desestabilização, financiamento de opositores, estrangulamento econômico, infiltração de forças armadas e financiamento de grupos paramilitares contra-revolucionários. Os EUA apoiaram ativamente os golpes de Estado que ensanguentaram a região (Guatemala em 1954, Brasil em 1964, Chile em 1973, Argentina em 1976 e outros) e as tentativas de invasão militar (Cuba em 1961, e Republica Dominicana em 1965…). Sozinho, Fidel Castro, teria sido alvo de 638 tentativas de assassinato entre 1959 e 2000. Veneno, armadilhas em charutos e aparelhos fotográficos: a imaginação dos serviços secretos parece não ter limites. Os EUA encarregaram-se também de treinar centenas de oficiais latino-americanos na Escola das Américas. Destacaram agentes e financiaram o material (rádios, manuais de interrogatório) para a Operação Condor. Lançada em 1975, ela foi uma autêntica transacional de ditaduras no Cone Sul, encarregada de caçar, torturar e executar opositores em todo o mundo (3).

11 de setembro de 1973, Allende escoltado com colete aprova de bala no momento do ataque ao palacio La Moneda no dia do golpe

Nesta área, a ação do governo Richard Nixon (1969-1974) contra o presidente chileno Salvador Allende representa um caso exemplar. Antes mesmo do líder socialista assumir o cargo, em 3 de novembro de 1970, a CIA, a embaixada norte-americana e o Secretário de Estado Henry Kissinger organizaram uma vasta rede clandestina de operações para derrubar o governo. A partir de outubro, a CIA entra em contato com os militares golpistas, entre eles o general Roberto Viaux. Paralelamente, medidas de boicote econômico internacional e sabotagem (como o financiamento da greve dos caminhoneiros em outubro de 1972) agravam a situação doméstica. Os dirigentes mais conservadores da democracia-cristã e da direita chilena beneficiam-se de um generoso apoio, assim como a imprensa da oposição. Segundo um relatório do Senado dos EUA “a CIA gastou 1,5 milhões de dólares para financiar El Mercurio, principal jornal do país e canal importante de propaganda contra Allende” (4). Agustin Ewards, seu proprietario desde então, está entre os ex-funcionários da CIA.

Com o fim da guerras civis na América Central e os processos de redemocratização no Sul, os EUA mudam sua melodia. Na década de 1990, a promoção do “Consenso de Washington” (5) e o surgimento de governos neoliberais na região permitiram-lhes firmar sua hegemonia através da defesa do mercado. Em 1994, o presidente Bill Clinton propôs a criação de uma zona de “livre comercio” das Américas (ALCA). “Nosso objetivo é garantir às empresas dos EUA o controle do território que vai do polo norte à Antártida” (6), declarou alguns anos mais tarde o secretário de Estado Colin Powell. Mas Washington não contava com a rejeição popular de suas pautas políticas, nem com a ascensão dos governos progressistas na região. Em 2005, o projeto da ALCA é rejeitado. A integração dos países da região intensifica-se para desconforto dos EUA, mantidos de fora. Criam-se a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) em 2008 e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) em 2010.

Barack Obama não rompeu com alguns fundamentos. Os memorandos da “estratégia de segurança nacional”, escritos em 2010 e em 2015, sublinharam que a América Latina continua sendo uma prioridade para os EUA, em particular em termos de fornecimento de energia – daí a obsessão de Washington com a Venezuela – e o controle militar do continente. Após 2008, foram inauguradas novas bases militares (sob direção do Comando Sul do Exército dos EUA) e sistemas de vigilância eletrônica, graças a aliança inabalável com a Colômbia. Especialistas do Pentágono ainda enxergam a região segundo os preceitos estabelecidos por Nicholas Spykman em 1942 (7): de um lado, uma zona de influência direta integrando o México, o Caribe e a América Central; de outro, os grandes Estados da América do Sul (em especial o Brasil, o Chile e a Argentina), cuja união é preciso impedir.

Para isso, o estímulo a acordos de livre comércio é considerado, em última análise, mais eficaz do que as formas diretas de intervenção (ler “Miragens do livre-comércio”). A recente reaproximação entre Washington e Havana, que visa romper o crescente isolamento dos Estados Unidos na região abrindo ao mesmo tempo um novo mercado, também insere-se nesta perspectiva. Diante de uma América multipolar, cada vez mais voltada à Ásia e agitada por muitos movimentos sociais de resistência, os EUA escondem-se por trás da diplomacia.

Assim, a luta contra os governos latino-americanos considerados populistas repousa, principalmente, no poder de influência: o soft power da opinião através dos meios de comunicação privados e o desenvolvimento de certas ONGs e fundações que recebem milhões de dólares para “sustentar a democracia” inspirando-se no modelo das “Revoluções Coloridas” que aconteceram no leste europeu. No último 12 de março, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, denunciou o papel de Miriam Kornblith, diretor da América Latina na National Endowment for Democracy (NED), no financiamento da oposição, sindicatos e associações anti-chavistas.

Dos golpes militares aos “golpes institucionais”

Bravatas bolivarianas? A conferir. Em 31 de maro de 1997, o New York Times informou que a NED foi criada para pensar uma “maneira de realizar publicamente o que a CIA tinha realizado em sigilo durante décadas”. Os documentos revelados pelo Wikileaks mostram que os EUA financiaram a oposição venezuelana desde a chegada de Hugo Chavez ao poder em 1998 (8). Em 2013, o presidente equatoriano Rafael Correa congelou, por sua vez, toda as atividades de cooperação com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), enquanto seu homólogo boliviano, Evo Morales, expulsou esta organização “independente”, considerando que ela “conspirava” contra si.

O Departamento de Estado não abandou seus velhos hábitos, como evidencia notoriamente o golpe de estado contra Chavez em abril de 2002. Em Honduras em 2009 e no Paraguai em 2012, os “golpes institucionais” favoreceram as oligarquias locais alinhadas com Washington (9). A estratégia consiste em destituir os dirigentes democraticamente eleitos, mas considerados muito insubordinados, com apoio de parte dos parlamentos nacionais. Conspiração ou arte de manejar a correlação de forças? A diferença pode ser tênue…



(1) José Martí (1853-1895), fundados do Partido Revolucionário Cubano, é um dos heróis da independência da América Latina.

(2) Citado por James D. Cockcroft, Mexico’s Revolution. Then and Now, Monthly Review Press, New York, 2010.

(3) Cf. John Dinges, Les Années Condor. Comment Pinochet et ses alliés ont propagé le terrorisme sur trois continents, La Découverte, Paris, 2008.

(4) « Covert Action in Chile. 1963-1973 » (PDF), Relatório Church, Senado dos Estados Unidos, Washington, DC, 1975.

(5) Ler Moisés Naim, « Avatars du “consensus de Washington” », Le Monde diplomatique, mars 2000.

(6) « Les dessous de l’ALCA (Zona de livre-comercio Americano) », Alternatives Sud, vol.10, no1, Centre tricontinental (Cetri), Louvain-la-Neuve (Belgique), 2003.

(7) Nicholas Spykman, America’s Strategy in World Politics : The United States and the Balance of Power, Harcourt, New York, 1942.

(8) Jake Johnston, « What the Wikileaks cables say about Leopoldo López », Center for Economic and Policy Research, Washington, DC, 21 février 2014.

(9) Cf. Maurice Lemoine, Les Enfants cachés du général Pinochet, Don Quichotte, Paris, 2015



Franck Gaudichaud
Professor da Universidade de Grenoble-Alpes e vice-presidente da Associação America France-Latina (FAL).

quarta-feira, 2 de março de 2016

Ruy Braga: Bernie Sanders e o socialismo nos EUA - Portal Vermelho

Ruy Braga: Bernie Sanders e o socialismo nos EUA - Portal Vermelho: Após vencer em New Hampshire e empatar em Iowa, Bernie Sanders transformou-se em um sério competidor na corrida para ser escolhido candidato do Partido Democrata nas eleições presidenciais americanas de novembro. Por Ruy Braga, no blog da Boitempo