segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A escória em ascensão, por Aldir Blanc

O Tríduo, cada vez mais estúpido, foi redimido pela força de Maria Bethânia. No geral, um desfile cheio de bobeiras, mas Bethânia enobrece tudo. Houve corrupção, jurados patifes, “musas” desvairadas, mulheres jacas e maracujás de gaveta explodindo botóx e idiotices. Pareciam noites de Walpurgis, nas quais bruxas de bundas encaroçadas (mulheres frutas-de-conde?), pretensas fêmeas esculpidas lembrando halterofilistas ucranianos, avacalhavam a tradição. Faz tempo não vejo tanta mulher feia. A síntese dessa miséria é a Peladona da Peruche, uma baranga socialite que rasgou a fantasia e foi atirada à margem do caminho. Ela também é considerada “musa das manifestações”, o que explica o vexame. No dia seguinte, indo pra vovó, sob o “efeito de remédios”, o sol derreteu a vampira. A verdade: uma sub-BBB, com nível intelectual abaixo de zero. Tivemos também a vaca louca racista que invadiu o Fla-Flu. Quer ter o rótulo Rosconaro no sobrenome. Em redes sociais queria que “os crioulos voltassem para a África”. Esse é o tipo de escória que está em ascensão, como aquele membro de família corrupta que atacou Chico Buarque, e depois, bêbado, lambia Ronaldo, o Fenômeno. Fico me perguntando como é possível alguém querer magoar, ferir, Taís Araújo. Quando vejo na TV essa mulher de sonho, só penso em ficar de mãos dadas, pedir colinho. Aquelas falsas musas não representam a extraordinária luta da mulher brasileira, tão bem destacada recentemente no libelo de Isabel Diegues.

Mudando de assunto, pobres refugiados sírios! Vi um barco de borracha no alto de uma onda gigante com os futuros afogados. Quando não morrem no mar, levam chutes e socos, ficam presos no arame farpado, são explodidos por jatos das democracias liberais, ou voltam a nos assombrar como os esqueletos dos campos de concentração. O Horror retornou. Com a queda de popularidade dos que pretensamente os apoiavam — mamães viraram madrastas —, os refugiados já não podem nem mais ir à Merkell de barquinho.

Falei em Fla-Flu, mas o jogo é Fla-Fla, só um time joga, dá pontapés. O resto apanha. Não acontece nada com os crapulosos tucanos. Podem roubar durante décadas nos trens de São Paulo, comprar votos, se meter em negociatas de um bilhão de dólares com refinarias argentinas e até roubar na merenda escolar. Também podem, sendo políticos drogados de alto bordo, espancar mulheres, pois não serão queimados como outros. Vai dar pizza com Samarco e a privada Vale. São frutos tucanos. Eles podem até mesmo pretextar uso político quando são comprometidos em pensões e compras de apês na Europa para filhos — ou não —, fora dos casamentos exemplares, cujas mães foram perseguidas. O sub-relator da CPÍnfima do BNDES, o tucano Alex Baldy Cheio de M quer prender o Lula. Se ele for criminoso, tudo certo, mas, em nome da decência, prendam o Azeredo, a quadrilha no Paraná, os espancadores de esposas que são candidatos à Presidência da Ré-pública.

Não tá tranquilo nem confiável, Bin Laden. Tá Samarco e ChicunCunha.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O capitalismo do 1%


POR GUILHERME BOULOS

Em apenas cinco anos, a metade mais pobre da humanidade perdeu 38% de sua riqueza. Os lucros dos bancos não param de crescer. É a isso que chamam de “austeridade” — ou “ajuste fiscal”…

Por Guilherme Boulos

Uma economia para o 1%. Com esse título, a organização não governamental britânica Oxfam lançou no mês passado um estudo sobre as desigualdades no mundo. Pela primeira vez na história o 1% mais rico superou em renda e patrimônio os 99% restantes. Os dados basearam-se no Relatório anual de 2015 do banco Credit Suisse.

O estudo mostra que a metade mais pobre da humanidade (3,6 bilhões de pessoas) viu sua riqueza cair 38% nos últimos cinco anos, perda de US$1 trilhão. E se apropriou de apenas 1% do aumento da riqueza global desde 2000. Enquanto isso, o 1% mais rico abocanhou a maior parte deste incremento.

A riqueza da metade mais pobre equivalia em 2010 à dos 388 homens mais ricos do mundo. Nos últimos anos, essa indecência só se agravou: as 3,6 bilhões de pessoas mais pobres agora têm o mesmo que 62 membros do Clube dos bilionários.

Os resultados são alarmantes. Mostram que, desde o estouro da crise em 2008, a desigualdade tem aumentado incrivelmente. Enquanto as políticas de “austeridade” achatam a renda dos trabalhadores e atacam os sistemas de seguridade social, o lucro dos bancos bate recordes, assim como os ganhos de altos executivos.

Quem viu o lucro do Bradesco avançar 14% no ano passado, em plena recessão, não deveria estranhar os resultados apresentados pela Oxfam. No entanto, o relatório foi seguido de ruidosa chiadeira. Os defensores da ordem foram a campo tentando desqualificar os dados do Credit Suisse por sua metodologia. Alegaram, principalmente, que o uso do conceito de riqueza líquida (renda e patrimônio, com subtração das dívidas) distorcia os resultados.

Vale pontuar que, semanas atrás, quando o mesmo Credit Suisse fez um duro prognóstico da recessão brasileira apontando-a como a pior da história, não vimos nenhum articulista da direita nacional fazer suas ponderações “metodológicas”.

De toda forma, a própria Oxfam se encarregou de responder o questionamento sobre a riqueza líquida, afirmando que “os 50% mais pobres são, na maioria, pessoas lutando para sobreviver com pouca ou nenhuma riqueza para apoiá-los. Apesar desse número incluir aqueles em dívida –riqueza negativa, mas com algum patrimônio– é importante notar que esses são a exceção e não a regra”.

Além disso, foi alegado que, se excluídas as dívidas do cálculo, haveria uma mudança na distribuição da riqueza global e os números não seriam tão chocantes. Isso não é verdade, diz a Oxfam, “já que excluindo a dívida dos 10% mais pobres, a fatia da riqueza do 1% mais rico se modifica pouco, passando de 50,1% para 49,8%”. Ou seja, as desigualdades mundiais não se resolveriam com alteração metodológica.

Há quem prefira atacar os dados a deparar-se com a realidade. Compreensível. Afinal não deve ser fácil para os amantes da ordem reconhecer que seu sistema meritocrático da “oportunidade para todos” desandou numa plutocracia onde 1% tem mais que todos os 99% restantes.

O capitalismo fracassou em suas promessas. O mundo de hoje é muito mais desigual que o do século passado. Nem todos os perfumes da Arábia, nem o cinismo do discurso neoliberal conseguirão maquiar esta realidade.

Aí está Bernie Sanders, pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos. Aí está o “Podemos”, na Europa. E o fortalecimento de diversos movimentos populares mundo afora. Será difícil silenciá-los ante a profundidade do abismo que separa o 1% da maioria trabalhadora.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Quem é Sérgio Moro?

29/jan./2016

Por Paulo Muzell

O Diário do Centro do Mundo (DCM) veiculou neste mês de janeiro uma oportuna e interessante matéria sob o título “Retrato do juiz Sérgio Moro quando jovem”. Durante cerca de setenta dias dois repórteres do DCM percorreram Maringá, Ponta Grossa e Curitiba tentando entrevistar e obter informações sobre a trajetória, desde a infância, do controvertido personagem, uma nova estrela do judiciário brasileiro, transformado em “herói” pelos integrantes dos protestos que pedem o impeachment da presidente Dilma. Moro é hoje, não há qualquer dúvida, o ídolo maior da direita brasileira, tratado a “pão de ló” pela grande imprensa golpista, a PIG, que tem na Folha de São Paulo, no Estadão, na Veja e na rede Globo seu núcleo “de aço”. Por outro lado, um importante grupo de advogados constitucionalistas e criminalistas lançaram recentemente um manifesto acusando Moro de ignorar o princípio de presunção de inocência, de vazamento seletivo de informações, de execração pública dos réus que estão transformando a “lava Jato” num verdadeiro tribunal inquisitorial, de exceção.
Os repórteres do DCM queixaram-se das dificuldades que os acompanharam ao longo de seu trabalho: os familiares, amigos, vizinhos e colegas estavam orientados para manter silêncio. Sérgio Moro recusou-se a dar entrevista ao DCM. A sua mãe justificou: “ele não dá entrevista para qualquer um, tem amigos na Folha de São Paulo, Estadão, Veja e o Globo para falar quando quiser”.
O objetivo da reportagem do DCM era conhecer a experiência de vida do juiz, sua orientação religiosa e política, prática de esportes, rotinas do dia a dia. Foram feitas, ou pelo menos tentadas, dezenas e dezenas de entrevistas com familiares, ex-colegas, colegas atuais, professores, ex-professores, integrantes e professores da turma de 1996 da Faculdade de Direito de Maringá, além de um ex-patrão o advogado Irivaldo Joaquim de Souza, assessores de imprensa do judiciário federal e com seus alunos da Universidade Federal do Paraná. Sérgio Moro foi um aluno discreto, não laureado como já foi algumas vezes erroneamente noticiado, tímido, o oposto do tipo namorador.
Sérgio Moro pertence a uma típica família tradicional de Maringá, sócio do Country Club da cidade, entidade cujo título atinge o valor de 30 mil reais. Estudou entre os 6 e os 16 anos num colégio de freiras carmelitas espanholas onde tinha fama de aluno muito aplicado. Andou de busão pela primeira vez ao começar a frequentar a faculdade, aos 18 anos. Religioso ao extremo, mãe carola. Idolatrava o pai, falecido em 2005, um professor muito respeitado, homem conservador, apoiador da ditadura, fundador e militante do PSDB de Maringá, que foi formado majoritariamente por quadros egressos da ARENA. O próprio Moro recentemente prestigiou um evento promovido pelo PSDB em companhia de João Dória. Sua esposa trabalhou como assessora jurídica do gabinete do governador José Richa (PSDB do Paraná).
Apesar das dificuldades que os repórteres do DCM encontraram, a matéria é bastante elucidativa. Não surpreende, revela o que a gente imaginava o que Moro é: o típico juiz originário de uma cidade do interior, de família tradicional, com formação religiosa, conservador. O clássico personagem que interessa à grande mídia promover para atacar, enfraquecer e se possível destruir partidos populares, taxados de “populistas” pela oligarquia, que não tolera a existência de voz contrária à crescente concentração da renda e da riqueza do país. A oligarquia e o seu braço, a grande mídia, defendem intransigentemente o “império do Deus Mercado” que resultou nesta brutal desigualdade: 70 milhões de pessoas (1% da população do planeta) tem a mesma renda que os restantes 99%, ou seja, que mais de 7 bilhões de pessoas! E não estão satisfeitos, querem ainda mais!
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Paulo Muzell é economista.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Sanders desafia a Era da Desigualdade


POR THOMAS PIKETTY
17/02/2016


Tradução: Inês Castilho

Como podemos interpretar o incrível sucesso do candidato “socialista” Bernie Sanders nas primárias dos EUA? O senador de Vermont está agora à frente de Hillary Clinton entre eleitores de tendência democrata com menos de 50 anos de idade, e é apenas graças à geração mais velha que Clinton consegue manter-se à frente nas pesquisas.

Sanders pode não vencer a competição, por estar enfrentando a máquina dos Clinton, assim como o conservadorismo da velha mídia. Mas já foi demonstrado que um outro Sanders – possivelmente mais jovem e menos branco – poderia num futuro próximo vencer as eleições presidenciais e mudar a fisionomia do país. Em vários aspectos, estamos testemunhando o fim do ciclo político-ideológico iniciado com a vitória de Ronald Reagan nas eleições de 1980.

Vamos dar uma olhada pra trás, por um instante. Dos anos 1930 aos 1970, os Estados Unidos estiveram na vanguarda de uma série de ambiciosas políticas com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais. Em parte para evitar qualquer semelhança com a Velha Europa, vista então como extremamente desigual e contrária ao espírito democrático norte-americano, o país inventou no entre-guerras uma tributação altamente progressiva sobre a renda e o patrimônio, e instituiu níveis de progressividade nunca utilizados no outro lado do Atlântico. De 1930 a 1980 – durante meio século – o percentual para a tributação da renda mais alta dos EUA (acima de 1 milhão de dólares anuais) era em média de 82%. Chegou a 91% entre os anos 1940 e 1960 (de Roosevelt a Kennedy); e era ainda de 70% quando da eleição de Reagan, em 1980.

Essa política não afetou, de forma alguma, o forte crescimento da economia norte-americana do pós-guerra. Certamente, porque não faz muito sentido pagar a super gestores 10 milhões de dólares, quando US$ 1 milhão dá conta. Os impostos sobre patrimônio eram igualmente progressivos. As alíquotas chegaram a 70% a 80% sobre as maiores fortunas durante décadas (elas quase nunca excederam 30% a 40%, na Alemanha ou na França) e reduziram enormemente a concentração do capital norte-americano, sem a destruição e as guerras que a Europa teve de enfrentar.

A restauração de um capitalismo mítico

Nos anos 1930, muito antes dos países da Europa, os EUA instituíram um salário mínimo federal. No fim dos anos 1960 valia 10 dólares a hora (no valor do dólar em 2016), de longe o mais alto naqueles tempos.

Tudo isso foi obtido quase sem desemprego, pois tanto o nível de produtividade quanto o sistema educacional possibilitavam. Esse é também o período em que os EUA finalmente colocam um fim na antidemocrática discriminação racial legal ainda em vigor no Sul, e lançam novas políticas sociais.

Toda essa mudança detonou uma oposição musculosa, particularmente entre as elites financeiras e os setores reacionários do eleitorado branco. Humilhados no Vietnã, os EUA dos anos 1970 estavam mais preocupados com o fato de que os derrotados da Segunda Guerra Mundial (liderados pela Alemanha e pelo Japão) ganhavam terreno em alta velocidade. Os EUA sofreram inclusive com crise do petróleo, a inflação e a sub-indexação das tabelas dos impostos. Surfando nas ondas de todas essas frustrações, Reagan foi eleito em 1980 com um programa cujo objetivo era restaurar o capitalismo mítico existente no passado.

O ápice deste novo programa foi a reforma fiscal de 1986, que pôs fim a meio século de um sistema de impostos progressivos e reduziu a 28% a alíquota sobre as rendas mais altas.

Os democratas nunca desafiaram de fato essa escolha, nos anos dos governos Clinton (1992-2000) e Obama (2008-2016), que estabilizaram a alíquota de impostos em cerca de 40% (duas vezes mais baixa do que o nível médio no período 1930-1980). Isso detonou uma explosão de desigualdade, ao lado de salários incrivelmente altos para aqueles que podiam consegui-los, e uma estagnação da renda para a maioria dos norte-americanos. Tudo isso foi acompanhado de baixo crescimento (num nível ainda pouco mais alto que o da Europa, lembremos, pois o Velho Mundo encontrava-se atolado em outros problemas).

Uma possível agenda progressista

Reagan decidiu também congelar o valor do salário mínimo federal, que desde 1980 foi sendo lenta, porém seguramente corroído pela inflação (pouco mais de 7 dólares por hora em 2016, contra perto de 11 dólares em 1969). Também nesse caso, esse novo regime político-ideológico foi apenas mitigado nos anos Clinton e Obama.

O sucesso de Sanders, hoje, mostra que a maioria dos norte-americanos está cansada do aumento da desigualdade e dessas falsas mudanças políticas, e pretende reviver tanto uma agenda progressista quanto a tradição norte-americana de igualitarismo. Hillary Clinton, que posicionou-se à esquerda de Barack Obama em 2008, em questões como seguro de saúde, aparece agora como defensora do status quo, como apenas mais uma herdeira do regime politico de Reagan-Clinton-Obama.

Sanders deixa claro que deseja restaurar a progressividade dos impostos e aumentar o salário mínimo (para 15 dólares por hora). A isso acrescenta assistência de saúde e educação universitária gratuitas, num país onde a desigualdade no acesso à educação alcançou níveis sem precedentes, e destacando assim o abismo permanente que separa as vidas da maioria dos norte-americanos dos tranquilizadores discursos meritocráticos pronunciados pelos vencedores do sistema.

Enquanto isso, o Partido Republicano afunda-se num discurso hiper-nacionalista, anti-imigrante e anti-Islã (ainda que o Islã não seja uma grande força religiosa no país) e o enaltecimento sem limites da fortuna acumulada pelos brancos ultra-ricos. Os juízes nomeados sob Reagan e Bush derrubaram qualquer limitação legal da influência do dinheiro privado na política, o que dificulta muito a tarefa de candidatos como Sanders.

Contudo, outras formas de mobilização política e crowdfunding podem prevalecer e empurrar os Estados Unidos para um novo ciclo político. Estamos longe das tétricas profecias sobre o fim da história.

Fonte: http://outraspalavras.net/

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Nunca houve uma perseguição política como a que estão fazendo contra Lula


Jorge Furtado


Nunca houve uma perseguição política contra um homem público como a que a direita e sua mídia estão fazendo agora contra Lula. O objetivo é só um: tentam enfraquecê-lo para a eleição de 2018 quando pretendem, pela quinta vez, retomar o poder que perderam em 2002.

Getúlio e Jango, outros dois presidentes que desagradaram interesses da elite brasileira (aumentaram o salário mínimo, protegeram a Petrobras dos interesses americanos, etc.), sofreram perseguição semelhante em 1954 e 1964, mas na época os jornais, rádios e tevês falavam sozinho e foi mais fácil e rápido derrubar os presidentes democraticamente eleitos.

A resistência contra um golpe de estado hoje seria bem maior. O fato de Lula ser um sobrevivente do apartheid brasileiro, sem a vocação suicida de um fazendeiro rico e deprimido como Getúlio, e a memória da tragédia da ditadura militar que sucedeu Jango, sugerem que desta vez a direita terá que voltar ao poder pelo voto.

Por isso a campanha midiática contra Lula é tão importante e de intensidade inédita. A notoriedade que hoje dão às decisões de um juiz medíocre de primeira instância em Curitiba e sua turma de policiais e procuradores tucanos é parte deste espetáculo grotesco, onde a imprensa de direita é, mais uma vez, a protagonista.

Aparentemente, a campanha está funcionando. Cresce o número de midiotas – leitores sem tempo para ir além dos telejornais e das manchetes da velha imprensa, onde pouco jornalismo sobrevive – que acreditam que Lula cometeu vários crimes, embora eles não saibam citar nenhum, se perguntados.

Os midiotas também não sabem em quem pretendem votar, não tem projeto algum para o país, não são a favor de nada ou de ninguém, são apenas “contra o Lula” e “contra o PT”.

Você não verá midiotas defendendo os políticos de oposição, até porque as opções são tão frágeis que eles sonham com a invenção de algum novo Collor, como Joaquim Barbosa, a tempo de enfrentar Lula ou algum candidato apoiado por ele – Ciro Gomes, por exemplo – antes de 2018.

Esta lógica, votar em “qualquer coisa menos o PT”, já produziu aberrações com Ivo Sartori, o desgovernador do Rio Grande do Sul. Se a midiotice tem poder suficiente para provocar estrago semelhante no país, descobriremos em 2018.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Crítica demolidora à tragédia nacional chamada Grupo Globo

JOSÉ CARLOS DE ASSIS é jornalista e economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre a Economia Política brasileira, dos quais o último é “A Razão de Deus”. No dia 16 de março de 2015, publicou na Carta Maior um artigo em que eviscera o modus operandi do Departamento de Jornalismo da Rede Globo de Televisão. Para Assis, este é o exato momento político em que se deve dividir o monopólio da Globo para fomentar um novo jornalismo para o Brasil. Há 51 anos, vivemos histeria midiática semelhante. Não havia a TV Globo, mas ao se completar um ano de golpe midiático-civil-militar, em 1965, Roberto Marinho pôde estrear sua TV – que fazia parte do projeto golpista.

A Globo caminha para a quebra. Se isso acontecer será culpa quase exclusiva de seu Departamento de Jornalismo. É que se alguém quiser se aproveitar da situação para comprar a Globo encontrará a seu favor o mais arrogante, mais pretensioso, mais insolente grupo de “formadores de opinião” como nunca se viu antes na história deste país, e com poderes ilimitados. Isso porque os donos são ausentes ou incompetentes, e nada trava a libertinagem televisiva e jornalística que se enfia goela baixo do cidadão daqui e do exterior, todos os dias, num exercício jamais observado de manipulação política pela via da emoção.

Há dois patamares no caminho da Globo para o fracasso. O primeiro é o Jornal Nacional, ligeiramente mais discreto na sua cruzada diária pela desinformação. Conduzido por William Bonner, que lembra um propagandista de sabonete, traz sempre uma mistura bem preparada de fatos e emoção direcionada para a busca de telespectadores a qualquer custo, mesmo quando esse custo significa subverter a verdade. A distorção a favor dos ricos é limitada apenas pelo medo de perder audiência no horário nobre, na medida em que grande parte dela é de famílias pobres beneficiárias dos programas sociais do PT.

É no Jornal da Globo, contudo, que os noticiaristas e comentaristas da Globo saem do armário. Aí a manipulação da opinião pública passa a ser um jogo aberto. Começa com a figura burlesca de William Wack anunciando todas as pragas do Egito sobre o Brasil. Ele tem, como o JN, prazer em noticiar tragédias, coisas que comovem. Mas, com muitos graus de emoção sobre o Jornal Nacional, despeja na audiência, formada sobretudo por gente de classe média que não tem compromisso com horário no dia seguinte, o que essa audiência enviesada quer ouvir na sua sanha lacerdista de apelos hipócritas contra a corrupção.

Mas William Wack é um casca grossa: manipula o noticiário de acordo com suas preferências pessoais, acrescentando ao sabor da notícia deformada esgares de palhaço de circo. Cabe a Sardenberg um papel aparentemente mais sutil, como me observou Jânio de Freitas, o maior jornalista político do Brasil em atividade, já que ele é mais venenoso por divulgar os conceitos da economia política favoráveis aos ricos dentro de uma carcaça insidiosa de neutralidade técnica, como todo bom charlatão. Ele agrada aos poderosos e ao mesmo tempo engana os pouco pobres que resistem a assistir a tevê até de madrugada.

O Jornal da Globo tem, portanto, uma interação intelectual e moral afetiva com ricos e poderosos. Sua eficácia, conforme Marx, está no fato de que a ideologia da sociedade é a ideologia da classe dominante. Quando a classe dominante dispõe inteiramente da mídia, sem concorrência – porque, no campo da ideologia, a quase totalidade dos maiores jornais, revistas e tevês está do lado e de mãos dada com uma direita sórdida e indiferente aos destinos da sociedade -, o campo político fica inteiramente aberto, inclusive para golpes brancos.

Poderia continuar enchendo laudas e laudas de adjetivos contra a dupla do Jornal da Globo e contra outra dupla igualmente perniciosa para a democracia, os comentaristas do jornal Globo Míriam Leitão e Merval Pereira. Este não merece muita tinta, porque é apenas ignorante – na acepção semântica da palavra. Míriam, porém, como Sardenberg, é astuta. Passa a ideia de que sabe economia, quando o que realmente sabe é identificar economistas de direita, como ela, e dar-lhes espaço franco em sua coluna diária e sórdida na Globo News.

O noticiário econômico brasileiro, de jornal e de tevê, está dominado por entrevistas e artigos de economistas de banco. Galbraith, com sua fina ironia, dizia que não se sentia à vontade para acreditar em opiniões econômicas de quem tem interesse próprio em jogo. A rede Globo e os jornalões, assim como as revistas semanais (exceto Carta Capital), apoia seu noticiário econômico em economistas de banco com o maior descaramento. Assim, são os economistas de banco que estão fazendo a cabeça de milhões de brasileiros sobre economia.

Trabalhei anos na editoria econômica do Jornal do Brasil, de que fui subeditor, e jamais entrevistei um economista de banco. Trabalhei anos como repórter econômico da Folha de S. Paulo e jamais entrevistei, para publicação, um único economista de banco. Agora são esses economistas que dominam o noticiário econômico com seus próprios interesses. Acaso é esse tipo de liberdade de expressão e de opinião publicada que interessa ao Brasil? Ou é o momento em que se deve pensar em dividir o monopólio do Globo e fomentar um novo jornal no Rio para o Brasil?

P.S. Não é do meu estilo fazer ataques pessoais. Entretanto, o Sistema Globo foi dividido em três capitanias, uma para cada herdeiro, e as capitanias em sesmarias, cada uma sob o comando de um jornalista no caso do Departamento de Jornalismo. Assim, não adianta falar, quando se trata de formação de ideologia, de um sistema global. É preciso identificar pessoalmente os donos das sesmarias jornalísticas, como procurei fazer. Não fosse tão grande o Sistema Globo, amainaria minhas críticas. Como é grande demais, e eu muito pequeno, pode perfeitamente suportar o choque!