quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Não são tenentes, são bacharéis


Nilson Lage
Leio articulistas de esquerda fazendo comparações entre o atual movimento de bacharéis – juízes e procuradores – com o tenentismo de há um século.
O paralelo é atraente, mas enganoso.
A começar pelo fato de que nada mais antibacharelesco que aquele movimento.
O tenentismo, evoluindo nos quartéis em oposição ao civilismo e suas distorções oligárquicas, foi um movimento complexo, do qual se originaram as vertentes do comunismo de Prestes, do trabalhismo de Vargas e do autoritarismo que, após a breve fase de namoro com o fascismo, se fundiria com a modernização conservadora instigada pelos Estados Unidos no pós-guerra.
Aliás, Filinto Muller e Juarez Távora foram terminar na falecida Arena.
Objetivamente, o tenentismo era contra o estado de coisas da República Velha, mas propunha soluções alternativas e não pretendia, ao ser lançado, a tomada do poder pela corporação militar.
Hoje, juízes, procuradores e policiais nada têm a propor senão a destruição do que está feito, com total descritério.
Sua luta não tem grandeza, porque motivada por poder e dinheiro. Aliás, ao contrário da dos tenentes, sequer correm riscos, porque indemissíveis e com poder de polícia.
O tenentismo foi, na sua origem, movimento nacional que expressou, do ponto de vista militar, o sentimento difuso da inteligência brasileira da época, que pretendia promover o crescimento econômico, a integração nacional e a redução das desigualdades.
Nada parecido com a campanha dos bacharéis, evidentemente inspirada e instrumentada por potência estrangeira, ignorante da economia e alheia aos problemas sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário