quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Altamiro Borges: Mídia não sabe o que fazer com o 'Coiso'

Altamiro Borges: Mídia não sabe o que fazer com o 'Coiso'

Mourão enterra Bolsonaro ao defender fim do 13º

Alex Solnik
27 de Setembro de 2018

Em campanha no Sul do país, Mourão defendeu o fim do 13º. salário – "é uma jabuticaba" - e o pagamento de adicional de férias em palestra a empresários: "o Brasil é o único lugar do mundo onde a pessoa entra em férias e ganha mais". Bolsonaro desautorizou logo em seguida e os compromissos de seu vice foram suspensos. Ou seja, ele foi colocado na geladeira, como já tinha acontecido com Paulo Guedes quando anunciou a volta da CPMF.
Com mais essa declaração escravocrata ele pode ter enterrado de vez essa candidatura que contamina o país com cenas de ódio e violência e dissemina propostas que apontam para o aumento da pobreza, do desemprego e dos conflitos sociais.
Mas não adianta colocar Mourão na geladeira. Ele não vai deixar de pensar o que pensa. E tudo o que pensa ofende a democracia, a inteligência, o bom senso e a paz social.
Também não adianta Bolsonaro desautorizar Mourão, porque no fundo ele também pensa isso, mas não quer dizer agora para não atrapalhar sua campanha. Afinal, ele é político profissional há 30 anos e Mourão não é.
Além disso, se a chapa se eleger – Deus livre o Brasil disso – e por algum eventual acontecimento Mourão tiver que assumir o seu lugar, quem o impedirá de colocar em prática o que vem pregando?
Ao votar em Bolsonaro, o eleitor também elege Mourão e todas as ideias do Mourão.
E o vice, como se sabe, não pode mais ser trocado e não é passível de demissão depois de assumir.
À medida em que as trabalhadoras e os trabalhadores do Brasil ficarem informados de que Bolsonaro pretende acabar com suas férias e com seu 13º., suas intenções de voto deverão murchar até o dia da eleição.

Por que não? Uma bela teoria da conspiração!

Bolsonaro nunca pensou em ser presidente da República, serviria de espantalho para na última hora abrir espaço para o Alckmin, que lhe garantiria uma aposentadoria confortável em qualquer lugar do mundo.
Escolheu dois outros vice-presidentes que não o incomodariam, porém os dois não toparam. Como última opção surge um general, este sim um nazista puro, que canta músicas da SS alemã.
Quando o General se dá conta (ou mesmo sabia a priori) que a candidatura seria uma farsa, surge do nada um sujeito que parece “meio desequilibrado”, mas já foi açougueiro e sushi-man, ou seja, alguém com habilidade de manejar facas.
O desequilibrado faz um atentado que quase leva a morte o candidato, e apesar de Bolsonaro estar cercado de guarda costas bombados, não recebe nem um soco na cara depois de fazer um atentado, pois teve a proteção de dentro do círculo interno do candidato.
O candidato e seus bolsofilhos, descobrem a trama e praticamente Bolsonaro abre mão da campanha, pois se for eleito da próxima vez não será uma facada, mas sim a queda de um avião ou helicóptero presidencial, abrindo espaço para o vice assumir.
Com isto, apesar de recuperado, Bolsonaro praticamente sai da campanha, deixando a possibilidade de ser eleito cada vez mais distante, mas conserva a condição de sobreviver e voltar a sua aposentadoria como deputado federal.
Uma bela teoria da conspiração que foi abortada, pode até não ser verdade, mas dá uma boa série de TV.

sábado, 8 de setembro de 2018

O capitão nunca esteve tão próximo do Planalto


 
O capitão nunca esteve tão próximo do Planalto
 
por Ricardo Cappelli 
 
É preciso reconhecer a capacidade de Bolsonaro de gerar delírios. Ele funciona como uma espécie de entorpecente capaz de turvar a visão da esquerda e da direita ao mesmo tempo.
 
Uma multidão delirante o recebeu em Juiz de Fora. Após a fatídica facada, o delírio mudou de lado. Parte da esquerda abriu sua caixa de loucuras.
 
O atentado, feito por um lobo solitário desequilibrado, teria sido na verdade uma conspiração internacional tramada com a família Marinho e colocada em prática pela dupla CIA/Mossad. “Cadê o sangue?”, gritavam os “esquerdominions”. 
 
O Capitão lidera a pesquisa, subiu no último Ibope, e resolveu contratar um israelense ninja que no meio da multidão desferiu um golpe milimétrico que por pouco não o mata. Faz todo sentido.
 
Ou pior, a conspiração envolveu todos os médicos, enfermeiros e toda a polícia federal. “A verdade é que não existe corte, é coisa de Hollywood!” Chega a ser ridículo.
 
A facada entrou para a história pelo paradoxo de suas conseqüências. Atingiu o coração da democracia e catapultou o candidato que mais ameaças representa ao sistema democrático. Cortou em pedaços Geraldo Alckmin e pode levar a uma unificação de forças impressionante.
 
O assunto atraiu audiência no planeta. Deu a Jair o que ele não tinha e jamais sonhou. Uma avalanche de mídia espontânea positiva, permitindo-o furar o equilíbrio imposto pelas regras eleitorais à cobertura jornalística de candidatos.
 
Dores pessoais têm o poder de humanizar o mais ogro dos mortais. Fragiliza o fortão e o traz para perto das pessoas de carne e osso. 
 
Fica a imagem do homem destemido que resolveu enfrentar o sistema e acabou perseguido, ferido mortalmente. Um cidadão que colocou a própria vida em risco pela missão de salvar o Brasil. A fala dele com a sonda no nariz no hospital é devastadora.
 
Se já tinha o poder de se comunicar com seu eleitorado como um “Lula da direita”, simples e objetivo, direto, se somou ao ex-presidente agora na condição de vítima. Temos duas vítimas do sistema, um preso e outro sangrando em cadeia nacional.
 
Qualquer marqueteiro será capaz de reduzir agora suas dificuldades com o eleitorado feminino. Basta trazer sua família e sua mulher para a cena chorando, dizendo da dor que seria perder um marido e um pai maravilhoso. 
 
Se já estava difícil que a profecia de derretimento de Jair se concretizasse, agora ela parece impossível. Que eleitor vai abandonar seu escolhido gravemente ferido no leito de um hospital? Esqueçam, o brasileiro é altamente solidário na dor porque a conhece de perto.
 
A rejeição do Capitão deve cair e as próximas pesquisas devem indicar alguma subida. A facada teve o poder de transformar o general Mourão num defensor do devido processo legal para o agressor. A mudança é radical.
 
A grande mídia está com a faca e o queijo na mão. Pode colocar Bolsonaro na TV 24 horas por dia sem nenhuma contestação. Trata-se de um fato jornalístico. Quem teria a coragem de questionar a cobertura da situação de uma pessoa gravemente ferida?
 
A pressão do establishment sobre o PSDB será insuportável. Ao garantir vaga no segundo turno com Jair passarão a sonhar com uma vitória consagradora no primeiro turno. Alckmin foi o verdadeiro atingido pela facada. Está virtualmente morto. 
 
A justiça tende a radicalizar contra a aparição de Lula no processo eleitoral. Se a briga entre o PT e Ciro por uma suposta vaga no segundo turno se tornar insana, o risco de um abraço de afogados será enorme.
 
A facada na democracia materializou o crescente processo de radicalização, o descrédito nas eleições e nas instituições. Fez o país pender perigosamente para uma extrema direita que agora, oportunamente, recolhe os dentes. 
 
As próximas semanas serão intermináveis. Os progressistas e democratas podem ser impelidos a seu unir ainda no primeiro turno. Nunca o Capitão esteve tão próximo do Planalto.

sábado, 1 de setembro de 2018

Flávio Tavares eterniza a tragédia do golpe em tela de três metros


Artista plástico paraibano expõe "Brasil, O Golpe: A Ópera do fim do mundo”.

Brasil de Fato | João Pessoa (PB)
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O quadro foi lançado ao público na segunda, 27, no Sesc Praia em João Pessoa. / Paula Adissi
Quantas vezes a realidade é mais pitoresca ou terrificante que os sonhos e a fantasia? À pergunta que atravessa séculos, cabe aos artistas, que catalisam as tragédias humanas e as apresentam pelo seu próprio prisma. 

Flávio Tavares, artista plástico paraibano, expôs no Sesc em João Pessoa (dia 27), um painel em óleo sobre tela, de três metros, contando a tragédia brasileira que culminou no Golpe e seus desdobramentos. Segundo o pintor “é uma carnavalização da linguagem gráfica, aonde eu pego todo o momento, o que eu senti pelo assassinato de Marielle, com essa figura bebendo água, greco-romana, no Rio Lete, o Rio do Esquecimento, e que tem o Hades, quer dizer o inferno grego da Divina Comédia, com Caronte no barco, e a luz ainda iluminando essa sessão de tortura da Dilma.”

O artista e sua obra. / Divulgação
Ele ressalta que a tortura da ex-presidente, na sua juventude, foi esquecida, assim como a morte da vereadora Marielle Franco já está caindo no Rio do Esquecimento. Alguns outros seres que habitam as mitologias, a sereia, o pássaro vermelho sendo ameaçado pelo que parece um Leviatã, tantas vezes evocado por Castro Alves no poema Navio Negreiro, também compõem um relato onírico da obra.
Parte da tela quando o pintor retrata a ex-presidente Dilma e Marielle Franco. / Paula Adissi
O painel tem algumas cenas importantes que se isolam e dialogam entre si. Em formato piramidal, na sua base temos O Banquete dos Poderosos, com a presença de Temer e várias figuras do judiciário, em especial o juiz Sérgio Moro se banqueteando avidamente, enquanto várias pessoas, miseráveis, esperam migalhas embaixo da mesa. Em pé, uma mulher negra servindo uma senhora fidalga, representando a elite brasileira, branca e impiedosa. Flávio destaca que o tema do painel é a injustiça “e os tantos tropeços que o Brasil tem dado em nome de um processo que eles estão chamando de Democracia, mas a gente vê que há uma transição forte ainda a se vivenciar para a gente ver isso acontecer.”
Cena da obra quando é retratado o Superior Tribunal de Federal e seu papel no golpe. / Paula Adissi
Vários anos atuando como chargista político delineiam a sua crítica política à atual história brasileira, profundamente marcada pela herança escravocrata, dramática e carnavalesca ao mesmo tempo: “eu procurei fazer uma coisa meio felliniana, meio circense, para não cair numa tragédia, porque realmente o ambiente que eu vivo é onde o humor suplanta o choro.”

Acima, ao centro da pirâmide, representando o poder em cima do povo, vemos a ama de leite segurando uma criança loura, e ao lado, a fera que ainda habita o Brasil.  “Esse preconceito de raça e classe, esse ódio que se tem do povo, e essa representação aqui, tão bonitinha para quem gosta de Monarquia, mas extremamente perversa no mundo inteiro”, reflete o artista.
Logo atrás da ama de leite, nas sombras, como um sopro gelado da história, o pano de fundo da tragédia, vemos os traços de um pelourinho, uma pessoa amarrada a um poste. Flávio denuncia, no entanto, que isso aconteceu no Rio de Janeiro há pouco tempo. Destaque para o guardador de rebanhos ao lado esquerdo, que, serenamente, contempla a pomba da paz. “É a luta que estamos travando junto à ONU para soltar o Lula. Ao lado dele está o povo e os carneiros, é o guardador de rebanhos, O Peregrino.”


Lula é retratado por Flávio Tavares como um pastor de ovelhas, "um peregrino". / Paula Adissi
Um personagem que pode passar desapercebido, mas que, no meio das centenas de referências, do fabulário nordestino aos clássicos ocidentais, bem no meio de todo o delírio dantesco, percebemos a (oni)presença da Casa Grande. Casa colonial, na sobriedade e riqueza do passado dos homens brancos e donos das almas. Um passado tão remanescente, às vezes até mais sofisticado, porém, perpetuando a história das atrocidades. 

O pintor Flávio Tavares tem mais de 50 anos de carreira, já expôs em vários estados brasileiros e diversos países pelo mundo. Na ocasião da vernissage do painel sobre o Golpe, houve o lançamento do livro ‘A Linha do Sonho’, do Sesc Paraíba com várias de suas obras.

Mais informações sobre a exposição podem ser obtidas no Sesc Cabo Branco, que fica na Avenida Cabo Branco, 2788, Cabo Branco, na capital João Pessoa; ou pelo telefone (83) 3219-3400.

 
Edição: Paula Adissi